Em homenagem aos professores do ensino infantil que estão cada vez mais assíduos nos blogs Linguagem, trago esta postagem didática, que aborda a importância da literatura agregada aos conceitos matemáticos.
A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO LÓGICO-MATEMÁTICO:
EXPLORANDO AS SITUAÇÕES COTIDIANAS
Geralmente as crianças já sabem contar quando chegam à escola, e a grande maioria dos/as professores/as apenas realiza exercícios de escrita dos numerais e de correspondência entre eles e conjuntos.
No entanto, contar de memória é diferente de contar com significado, o que exige uma estrutura lógico-matemática construída pela criança.
A criança não constrói o número fora do contexto geral do pensamento do seu cotidiano.
Para Piaget, os conceitos lógicos precedem os numéricos.
O conceito de número baseia-se na formação e sistematização da mente em duas operações: classificação e seriação.
A simples observação de classificações ou seriações prontas não são suficientes para a criança.
Cabe ao/a professor/a oportunizar desde a Educação Infantil várias situações que permitam ao/a aluno/a elaborar estes processos.
Para Kamii, o ensino do número deveria encorajar a criança a colocar todos os tipos de coisas em todas as espécies de relações.
Segundo Rangel, é somente agindo intensamente sobre os objetos em atividades como quantificar coleções significativas para ela que a criança poderá ir progressivamente construindo a estrutura do número que é a base para todo o conhecimento lógico-matemático.
Nestas atividades cotidianas o que fará a diferença será a intervenção do/a professor/a ou a sua intencionalidade pedagógica.
Para isto, ele/a deve conhecer a maneira de pensar da criança a fim de fazer intervenções adequadas que possibilitem a elas confrontarem suas hipóteses, desequilibrando-se cognitivamente, e a partir de sua ação sobre o objeto possam estabelecer conexões entre o que sabem e o novo, construindo assim um novo conhecimento, e aos poucos possam ir conquistando a tão desejada autonomia intelectual.
Segundo Piaget, os adultos estimulam o desenvolvimento da autonomia intelectual da criança quando intercambiam pontos de vista com as crianças, ou seja, a interação entre professor/a e aluno/a é fundamental.
Contextualizar o aprendizado da criança e fazer com que ele se amplie é um grande desafio do professor.
Segundo Marincek o papel do/a professor/a é planejar boas atividades de aprendizagem.
Por exemplo, ao trabalhar com situações problemas os/as alunos/as estarão envolvidos com a essência da atividade matemática e estarão utilizando diversas habilidades para resolvê-los, como antecipação das soluções, formulação de resultados, justificação de escolhas, argumentação de postos de vista, e, desta forma, acaba por construir um conhecimento contextualizado.
Conforme destaca Zabala, é uma das funções sociais da escola; fazer com que o conhecimento cotidiano fique melhor.
O/a professor/a deve aproveitar a bagagem cultural que a criança traz de seu meio social e a partir desta explorar suas concepções de mundo tornando-a consciente de seus atos e do motivo das coisas se constituírem como são, mas acima de tudo utilizar esses conhecimentos cotidianos como uma forma de progresso, propiciando que estes evoluam para o nível dos conceitos científicos, pois, a aprendizagem dirigida pelo educador/a é qualitativamente superior aos processos espontâneos de aprendizagem.
Segundo Smolle (2000) além de habilidades lógicas matemáticas é necessário que os/as alunos/as tenham a oportunidade de ampliar suas competências espaciais, corporais, intelectuais, intrapessoais e interpessoais.
As brincadeiras infantis possibilitam explorar idéias referentes a número de um modo diferente do convencional, pois brincar é mais do que uma atividade lúdica é um modo de obter informações, além de aquisição de hábitos e atitudes importantes.
Sugestões de atividades:
Desta forma, considerando que a falta de noção de número impede a compreensão das relações numéricas podemos organizar uma seqüência de atividades relacionadas com a vida cotidiana da criança, para que a construção numérica tenha sentido, favorecendo assim o estabelecimento de diversas relações:
- Encorajar as crianças a quantificar objetos logicamente e a comparar conjuntos em atividades como a de levar lápis para todos os colegas do grupo em que ela senta.
- Organizar cinco, dois ou três grupos com as cadeiras da sala.
- Comparar o grupo de meninos e meninas. - Distribuição das merendas, observando como realiza esta tarefa, desafiando-a a distribuir de forma igual para todos os colegas certa quantidade de biscoitos, bolo, balas, pirulitos etc.
- Propor a ida a um supermercado onde cada criança terá a tarefa de comprar pirulitos ou balas para certa quantidade de pessoas, observando como realiza a compra e se usa a relação termo-a-termo para efetuar a compra.
- Construção de gráficos sobre as letras do nome, a quantidade de pessoas da família, meio de transporte utilizado para ir à escola, mês de nascimento, idade, altura, cor dos olhos, cabelos etc.; explorando e analisando com os alunos os dados obtidos.
- Explorar a escrita e a leitura do nome, em que as crianças devem identificar cada letra do seu nome, recortando-as e destacando-as.
Reconstruir a escrita do nome colando as letras com o apoio de um pequeno crachá, ordenado-as em correspondência termo-a-termo.
Quantificar as letras do nome separando com o apoio na correspondência termo-a-termo, um palito de picolé ou forminha de doce para cada letra do nome, estabelecendo relações do tipo:
Quantos palitos ou forminhas recebeu?
Quantos ganhou? Quantos faltam?
Quantos sobram? Quem ganhou mais, menos, a mesma quantidade?
Nesta atividade pode-se realizar um jogo de memória com os palitos ou forminha, tentando formar o seu nome e explorando os mesmos aspectos que foram descritos acima.
- Construção de um álbum do nome mostrando quais as diversas maneiras com que podem mostrar quantas letras tem o seu nome.
- Para crianças de 2 a 3 anos uma atividade interessante é construir uma chamadinha com um desenho duplicado de bicho de EVA para cada criança, exemplo dois cachorros, dois macacos, dois tigres etc.
A cada dia pode-se fazer a chamadinha de uma maneira; com os desenhos virados para baixo onde a criança tem de achar o seu (tipo memória), ou virados para cima bem misturado e solicitar que achem os dois bichos que são seus. Ou ainda, enfileirar os desenhos e recolher um dos desenhos e solicitar que descubram qual está faltando.
- Outra atividade interessante para crianças bem pequenas é a utilização da história :
“Barulho na Caixa” da autora Clélia Machado.
Conta-se a história com o auxílio de um flanelógrafo, dos animais da história e a caixa.
A cada vez que a história é contada um dos animais é escondido dentro da caixa e pode-se questionar as crianças qual é o bichinho que agora está faltando.
Apesar de ser uma atividade muito simples ela é muito interessante, pois provoca equilíbrio mental e estimula o raciocínio lógico-matemático destas crianças bem pequenas.
" MEDO DO ESCURO "Antonio Carlos Pacheco - Editora Ática
A partir desta história o/a professor/a pode propor às crianças um jogo que envolverá a quantificação de sílabas dos nomes dos personagens.
Materiais : - Dado com o desenho dos personagens.
- Tabuleiro com o desenho de uma trilha. - Um pino para deslocar na trilha.
Procedimento:
Após a história a turma pode ser dividida em equipes que ganharão cada uma um tabuleiro com o desenho de uma trilha e um pino.
Cada equipe deverá jogar o dado, o qual indicará o nome do personagem.
O grupo deverá falar o nome do personagem que o dado indicou contando a quantidade de sílabas deste, ou quantos pedacinhos esta palavra tem.
A contagem pode ser feita através de palmas.
Após a contagem o grupo deve deslocar o pino de acordo com a quantidade de sílabas da palavra que sorteou.
Exemplo: a palavra é estrela – Três pedacinhos ou sílabas, anda três casas para frente na trilha.
O/a professor/a pode questionar quantos pedacinhos tem cada nome, que outros nomes tem o mesmo tanto de pedaços do que este etc.
Após o término do jogo pode-se fazer um registro individual do jogo em uma planilha.
A partir destas histórias o/a professor/a pode propor a confecção de jogos de memória, quantificação, seriação, classificação e bingo.
"UM AMOR DE CONFUSÃO" Dulce Rangel - Editora Moderna.
Materiais : - Desenho de um ninho que pode ser feito pelos alunos.
- Dado de quantidades.
- Papéis recortados em forma de ovos (6 cores).
- Dado de cores (6 cores).
Procedimento:
Após o/a professor/a contar a história, cada criança recebe um ninho.
Elas deverão jogar o dado de quantidades e o de cores que indicarão quantos ovos serão comprados e qual a cor destes.
Os ovos serão colocados no ninho.
O professor pode solicitar no final do jogo que as crianças classifiquem os ovos por suas cores verificando qual a cor que tem mais, a que tem menos, quanto a mais, quanto a menos.
Se as crianças forem maiores o/a professor/a pode introduzir um terceiro dado de tamanhos.
Assim poderão fazer atividades de seriação (do maior ao menor).
Vejam no Linguagem:
Vejam no Linguagem:
"O HOMEM QUE AMAVA CAIXAS" Stephen Michael King - Editora Brinque-book
Materiais : - Caixas de diferentes cores e tamanhos.
Procedimento: Após ouvirem a história o/a professor/a pode fazer diversas atividades com sucatas de caixas.
1º) Noção de tamanho: O/a professor/a identifica duas caixas de papelão vazias, uma com a palavra grande e a outra com a palavra pequena.
As crianças vão pegando as sucatas e relatando se são grandes ou pequenas e colocam na caixa referente ao tamanho.
2º) Noção de cor e espessura:
Dividir as crianças em grupos e colocar as sucatas à disposição dos grupos.
Cada grupo terá uma tarefa:
Grupo 1 - separar todas as caixas que forem da cor amarela, por exemplo;
Grupo 2 - separar todas as caixas que forem finas;
Grupo 3 - separar as que forem grossas.
3º) Após explorar as sucatas o professor pode promover um oficina de construção de brinquedos.
Vejam na listagem do Linguagem:
"ROMEU E JULIETA" Ruth Rocha - Editora Ática
Materiais:
- Dado de quantidades.
- Dado de cores (6 cores).
- Dado com o desenho de borboleta e de flor (intercalando as faces do dado, uma com borboleta, a outra com flor etc.).
- Desenhos de borboletas e flores (6 cores) que podem ser feitos pelos próprios alunos.
Procedimento:
Cada criança irá jogar os três dados simultaneamente.
Estes indicarão a quantidade a ser comprada, o tipo de personagem, a cor.
O/a professor/a pode solicitar que as crianças classifiquem os materiais.
Após o jogo verifica-se quem ganhou mais flores, quem ganhou mais borboletas, quem ganhou menos, qual a cor que mais saiu etc.
Após o jogo os/as alunos/as podem utilizar suas fichas para montar um lindo desenho.
"MANECO, CANECO, CHAPÉU DE FUNIL" Luiz Camargo - Editora Ática
Materiais: - Dado com o desenho dos objetos que formam o Maneco. - Desenhos dos objetos para serem comprados.
- Moedinhas.
Procedimento:
Cada criança recebe seis moedinhas.
Deverá jogar o dado e ver qual o objeto que irá comprar para montar o seu Maneco.
A cada objeto tirado no dado deve efetuar sua compra dando uma moedinha.
Desta forma, o professor pode ir explorando quantas moedinhas ainda resta, quantas foram gastas, quantos objetos já foram comprados, quantos ainda faltam etc.
O jogo acaba quando todos os participantes compraram todos os objetos necessários para montar o Maneco caneco.
-Conclusão:
Tendo em mente que a aprendizagem se torna significativa quando o indivíduo dá um significado pessoal a ela, exige que o ato de aprender seja visto como compreensão de significados, que se relacione com as experiências pessoais, promova o estabelecimento de relações e a utilização do que aprendeu em diversas situações.
Portanto, a qualidade do ensino depende da postura do/a professor/a, uma postura compromissada com seu trabalho; no entanto, não é apenas uma questão referente a ele/a, diz respeito à natureza do currículo e à organização da escola.
Ester Schaly Cardoso Pedagoga graduada em Educação Infantil e séries iniciais. Pós-graduada em Educação Infantil.
Referências bibliográficas:
KAMII, Constance. A criança e o número. São Paulo: Ed. Papirus,1985.
MARINCEK, Vânia (coord). Aprender matemática resolvendo problemas. Porto Alegre: Artmed, 2001.
PIAGET, Jean. A gênese das estruturas lógicas matemáticas. São Paulo: EPU, 1976.
RANGEL. Ana Cristina. Educação matemática e a construção do número. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.
SMOLLE, Kátia Stocco e Outros. Coleção matemática de 0 a 6 anos. Porto Alegre: Artmed, 2000.
ZABAlZA, Antoni. Enfoque globalizador e pensamento complexo: uma proposta para o currículo escolar. Porto Alegre: Artmed, 2002.
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