Uma mensagem para você
O objetivo desta prática foi promover situações de produção coletiva do gênero textual "Bilhete", inicialmente, tendo a professora como escriba e evoluindo para a produção individual.
Além disso, fazer uso da comunicação multimodal, pautada na junção de elementos alfabéticos e imagéticos.
Habilidades trabalhadas:
EF15LP01; EF15LP05; EF15LP06; EF01LP02; EF01LP14; EF02LP09; EF12LP04; EF01LP17; EF02LP13; EF01LP18; EF02LP12
Este projeto surgiu da necessidade de motivar os alunos a lerem e escreverem.
De acordo com a organização curricular, a partir do 2º ano do Ensino Fundamental, espera-se que os estudantes estejam aptos a ler e a produzir bilhetes, convites, cartões postais e outros gêneros, de acordo com o contexto de uso.
Compartilho a ideia de que quanto mais cedo a leitura é automatizada, mais a criança pode concentrar sua atenção em entender o que lê.
Ao fazer uma proposta de produção de texto, percebi a grande dificuldade dos alunos, por terem níveis distintos de capacidade e autonomia de escrita.
A grande maioria se sente incapaz de produzir um texto escrito.
A partir dessa situação, percebi que seria necessário um grande agente motivador para incentivá-los a escrever e a respeitar as diferenças individuais. Também buscava instrumentos para impulsionar o grupo a evoluir, com cada aluno avançando no seu tempo.
Havia também a questão socioeconômica, pois os meus alunos estavam distribuídos nos padrões de renda familiar "Baixo", "Médio Baixo" e "Médio".
Outra questão era a falta de recursos. Não havia a possibilidade de grandes investimentos no projeto. Tivemos, então, de pensar um pouco e usar o que tínhamos em mãos.
Segundo os relatos, não havia uma grande oferta de material de leitura para as crianças em casa, em parte, pelo fato de que os pais também não eram leitores.
Mas havia algumas coisas comuns a todas as famílias: o uso do celular e do WhatsApp. e o interesse absurdo das crianças por seu uso.
Partindo desta ideia, surgiu o projeto "Mensagens para Você".
O objetivo principal foi desenvolver nos alunos a capacidade de ler, compreender sua função e escrever textos.
Para que tivéssemos um grande impulso motivacional, comecei pelo gênero textual "Bilhete", a partir do formato de mensagem de texto usado no WhatsApp. Também optei por utilizar a linguagem multimodal para garantir a comunicação – mesmo daqueles que ainda não sabiam ler ou escrever.
Comecei o projeto contando a história do criador do WhatsApp, expliquei o que significava o nome WhatsApp e imprimi um quadro colorido com os principais emojis.
Também imprimi desenhos de iPhones para colorir, fiz uma matriz com linhas para facilitar a escrita das crianças e criei um quadro de envelopes coloridos com o nome de cada aluno e o símbolo oficial do aplicativo. Nesses envelopes, as crianças depositariam suas mensagens para os destinatários.
Houve muita interação das crianças. Elas gostaram da história do criador do WhatsApp, contaram suas experiências de uso do aplicativo e reconheceram os emojis. E perceberam as dificuldades que teriam para escrever, ler e responder uma mensagem escrita.
Perguntei como poderíamos resolver o problema. Foi aí que surgiu a ideia de aprendermos a ler e a escrever mensagens de texto no WhatsApp.
Como fazer:
Reuni as crianças e conversamos sobre a rapidez atual da comunicação. Perguntei como era a comunicação dos pais, parentes e amigos. O “zap" logo foi citado. Questionei se sabiam o que era, como funcionava e quem o havia inventado.
A partir daí, vários relatos foram feitos. Tudo foi ouvido e compilado a partir das informações importantes das experiências dos alunos.
Grande parte deles disse que já sabia enviar mensagens de voz, mas que não conseguia escrever e ler mensagens.
Então, eu apresentei a história do WhatsApp, falei sobre seu fundador e mostrei a evolução do aplicativo até os dias de hoje.
Relatei a importância do WhatsApp no dia a dia das pessoas. Perguntei, então, se desejavam aprender a mandar aquele tipo de mensagem, e a resposta positiva foi unânime.
No entanto, logo indagaram como fariam aquilo, já que nenhum deles tinha celular. Mostrei a eles o meu aparelho, contei como os celulares eram caros e sobre os custos de acesso à internet.
Mas, aí, eu disse que tinha uma solução para ficarmos craques em mensagens de texto: brincar de escrever para os colegas de sala.
Os alunos perguntaram se seria pelo celular. Aí, mostrei o desenho de um aparelho iPhone. Poderiam pintá-lo para que ficasse o mais bonito possível. Decidimos então que mandaríamos mensagens para nossos colegas sempre às terças-feiras, após o recreio, durante mais ou menos um bimestre letivo.
O quadro com o símbolo do WhatsApp tinha envelopes para cada aluno. Cada um tinha o nome do respectivo estudante. A turma usaria os envelopes para deixar mensagens aos colegas.
Na terça-feira seguinte, para iniciar a atividade, conversamos sobre os conhecimentos prévios que cada um tinha a respeito de mensagens de texto (bilhetes). Fiz as seguintes perguntas:
"Para que serve uma mensagem de texto?"
"Quem já escreveu ou recebeu uma mensagem de texto?"
"Como as mensagens de texto são escritas?"
"Podemos usar texto e desenho para comunicar uma ideia?"
Apresentei várias mensagens de texto para a análise das crianças (mensagens em linguagem multimodal). Elas fizeram a leitura das palavras e das imagens. A primeira mensagem foi escrita por mim para cada uma delas.
Então, decidimos escrever nossa primeira mensagem de texto. Propus que houvesse um sorteio.
Cada aluno sorteou um colega para enviar a mensagem. Ninguém poderia falar quem era o seu destinatário.
Os alunos que não sabiam escrever logo demonstraram preocupação. Eu propus ajudá-los até que conseguissem fazer sozinhos.
Com a participação de toda a turma, decidimos algumas regras sobre as mensagens. O início deveria ter sempre um cumprimento. Em relação ao conteúdo, todos concordaram que o autor deveria perguntar como o colega estava, para, depois apresentar alguma informação, contar alguma coisa. Em relação ao final, decidimos que deveria haver uma despedida, com a inclusão de um emoji.
Coloquei-me na posição de escriba e anotei o que foi solicitado para cada mensagem.
Ao final, os iPhones foram pintados e deixados no envelope do colega correspondente. Muitas crianças desenharam a maçã mordida da Apple no verso do desenho do iPhone. Perguntei se sabiam o significado daquilo. Elas disseram que era a marca do telefone.
As crianças foram questionadas sobre a dificuldade de compreensão das mensagens escritas. Conversamos sobre a necessidade de melhorar a capacidade de ler e escrever para sermos compreendidos e entendermos os conteúdos das mensagens.
Na terça-feira seguinte, fizemos novo sorteio. Os colegas escribas ajudaram aos que ainda estavam em processo de aprendizagem da escrita. Propus um banco de palavras no quadro para uso em mensagens.
O objetivo dessa estratégia foi estimular a interação dos educandos, possibilitando a colaboração e participação coletiva, além de criar uma situação real de comunicação. Tal dinâmica torna o aprendizado mais prazeroso, uma vez que provoca movimento e, ao mesmo tempo, exige disciplina e concentração.
No momento de escrita da semana seguinte, usamos a mensagem para contar ao colega como havia sido o final de semana.
Por isso, montei um banco com elas e colei ao lado do quadro. Solicitei a vários alunos que lessem suas mensagens para a turma.
Na outra semana, criamos uma mensagem convidando um determinado colega para uma brincadeira na hora do recreio.
Na última, fizemos um elogio ao colega, usando ponto de exclamação.
Depois desses quase dois meses de escrita de mensagens dentro da sala, convidei a professora da outra sala do 2º ano para trocarmos algumas mensagens.
Ela aceitou. Propus aos alunos que fizessem o mesmo com colegas da outra turma, convidando-os para comerem uma salada de frutas na nossa sala. Para a elaboração dessa proposta, analisamos o gênero "Convite".
Pedi à professora a lista de alunos dela, e cada criança sorteou um colega da outra sala para ser convidado.
Então, produzimos juntos o convite. A mensagem trazia, de início, um cumprimento ao colega. Na sequência, ela informava a data, a hora e o local. Também trazia o motivo do convite: é que estávamos estudando alimentação saudável e gostaríamos de falar sobre a importância e os benefícios de comer frutas. Os alunos da outra sala receberam nossas mensagens, fizeram a leitura em sua sala e enviaram a resposta, aceitando o convite.
Na terça-feira seguinte, os alunos fizeram uma mensagem para os pais comunicando que teriam de levar uma fruta para a produção de uma salada de frutas coletiva.
No dia marcado, os colegas da outra sala chegaram no horário combinado e eu preparei a salada na frente das crianças.
A outra professora falou de cada fruta e de seu potencial nutritivo. A salada foi servida e os alunos tiveram um momento de relaxamento e interação.
Na semana seguinte, os alunos da outra sala mandaram suas impressões em mensagem de texto. Fizemos no dia seguinte a escrita coletiva de uma receita de salada de frutas e ilustramos.
Exploramos, nesse dia, as múltiplas possibilidades do uso das mensagens instantâneas, a partir das experiências dos alunos.
Perguntei que outros tipos de informações poderiam ser enviadas: fotos, filmes, histórias, parabéns, combinação de horário ou qualquer outro tipo de informação, desde que com a organização correta das palavras e das imagens.
Constatei melhorias no vocabulário escrito, nos conhecimentos referentes ao gênero "Bilhete/Mensagem" e na compreensão da linguagem multimodal.
Dica!
Uma boa atividade complementar é o uso de livros onde possam ser encontrados bilhetes "deixados" pelos personagens. Uma situação semelhante, porém com cartas, é apresentada no livro Correspondência.
Professora Vandete Pereira Lima
O WhatsApp foi criado em 2009 pelo ucraniano chamado Jan Koum. Na época da criação ele estava desempregado e do nada resolveu criar um aplicativo de mensagens para se comunicar com os amigos. Continua:AQUI
A menina que bordava bilhetes
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