Em Arte, é preciso ensinar a ler textos sem palavras
Para explorar fotografias, pinturas, ilustrações e charges, é preciso saber a gramática própria que rege a linguagem visual e contextualizar as condições de produção de cada obra estudada.
Textos não são só aqueles formados por palavras e frases, que se encadeiam para ganhar sentido. Os grafites nas ruas, os comerciais da TV e as pinturas em livros e obras de arte são formados por sinais que precisam ser decodificados, lidos, para serem compreendidos.
Somados aos textos verbais, essas linguagens ajudam os alunos a interagir com o mundo e a se expressar melhor.
Mesmo assim, por muito tempo, o ensino de Arte praticamente desconsiderou a necessidade de trabalhar a leitura de imagens e outros gêneros próprios da disciplina, sejam eles visuais, sonoros, corporais e, claro, textuais (leia o quadro abaixo). Ainda hoje, a regra geral de boa parte das escolas é colocar os alunos para produzir sem que eles tenham um conhecimento adequado das obras artísticas. “Com essa ansiedade para pôr a mão na massa, surgem atividades sem nenhuma contextualização”, diz Paola Zordan, professora da Licenciatura em Artes Visuais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Da multiplicidade de gêneros presentes na disciplina, a leitura de imagens é a mais frequente (leia o infográfico). Fotografias, pinturas, desenhos e charges são expressões artísticas com características próprias, que precisam ser discutidas com a turma para que as obras sejam realmente lidas e não “adivinhadas” – a clássica atividade de mostrar um quadro e mandar, logo de cara, a pergunta “o que o artista quis dizer?” pouco acrescenta ao repertório artístico da turma (leia a sequência didática).
Em vez disso, você deve procurar auxiliar cada aluno a desenvolver o chamado olhar cultural, em que conhecimentos estéticos, antropológicos, históricos e científicos estão a serviço de uma compreensão da obra de arte que vá além das aparências ou do simples “gostei” ou “não gostei”.
Em vez disso, você deve procurar auxiliar cada aluno a desenvolver o chamado olhar cultural, em que conhecimentos estéticos, antropológicos, históricos e científicos estão a serviço de uma compreensão da obra de arte que vá além das aparências ou do simples “gostei” ou “não gostei”.
Na prática da sala de aula, a leitura em Arte se dá em cinco etapas principais.
A inicial é aquela em que se tem a percepção geral da obra, o resultado do trabalho do artista – é o que os especialistas denominam de aquecimento do olhar.
Um mergulho mais profundo é realizado nas três fases seguintes - descrição (a desconstrução da imagem), análise (a investigação sobre os meios utilizados) e interpretação (hipóteses sobre o significado da obra, considerando a vida do artista e as condições em que a obra foi produzida, ou seja, as informações de contexto). Apenas depois de tudo isso é que o aluno realiza uma nova produção, inspirada pela obra lida – é o momento da releitura (atenção: não se trata de reprodução da obra), que pode ser mais bem desenvolvida com a ajuda de anotações e comentários.
Imagem:
Realizadas com base em uma gramática característica – a visual –, utilizam formas, cores, volumes e texturas para construir um sentido.
Diferentemente dos textos verbais, que impõem uma forma de leitura – da esquerda para a direita, começando pelas primeiras palavras –, a leitura de uma obra visual é mais subjetiva e requer que o leitor use sua experiência, sua sensibilidade e seus recursos cognitivos para atribuir significados.
Texto verbal :
Também presentes em Arte, devem estar, de algum modo, relacionados ao objeto cultural apreciado, já que seu estudo tem como objetivo principal promover a ampliação de repertório da turma e a intertextualidade, trazendo elementos como informações sobre a origem e a intencionalidade do artista. É um terreno fértil para explorar biografias e movimentos, resenhas de exposições, filmes e mostras, catálogos de museus e depoimentos.
Filme:
Os que têm como tema a vida e a obra de algum artista também podem contribuir para que a classe compreenda melhor o percurso de criação e o contexto da produção. Atenção, porém, para filmes muito romanceados, que podem acabar mistificando o artista e reforçando rótulos, como o do gênio que cria obras por mágica.
Exemplo:
Descrever, analisar, interpretar
Moça com Livro, de Almeida Júnior.
Foto: Samuel Esteves
Na EMEF Guilherme de Almeida, a turma da 6ª série desenvolve as três etapas de leitura da obra Moça com Livro, de Almeida Júnior (1850-1899)
Interpretação:
Hipóteses:
sobre o significado: a postura da menina remete a uma cena de lazer, seu ar pensativo ao marcar a página do livro pode indicar que ela leu um trecho que a fez devanear
Descrição:
Indica o que é perceptível na imagem: a menina está deitada na grama, possivelmente em um parque ou jardim, usa camisa pouco abotoada, tem os olhos voltados para o alto e bochechas ruborizadas
Análise:
Diz respeito aos aspectos formais da obra: a pintura é realista, a figura da menina ocupa o primeiro plano e tem cores claras, com exceção das bochechas e lábios, em contraste com o fundo escuro.
Fonte:http://revistaescola.abril.com.br/arte/pratica-pedagogica/arte-preciso-ensinar-ler-textos-palavras-525447.shtml
Leitura de quadro e produção de comentário
Touro - Tarsila do Amaral
Objetivo:
Desenvolver a habilidade de descrever, analisar, interpretar e relacionar imagens.
Conteúdos:
- Leitura de imagens.
- Modernismo e surrealismo.
- Relações entre o texto visual e o contexto de produção da imagem.
- Comentário.
Material necessário:
Papel pardo, pincel atômico e cópias coloridas (uma para cada aluno) ou imagem para projeção em telão do quadro O Touro, de Tarsila do Amaral.
Desenvolvimento:
1ª etapa
Apresente aos alunos a imagem, convidando-os a passear os olhos livremente pelo objeto artístico.
Em seguida, proponha uma conversa, em que eles digam o que mais lhes chamou a atenção na obra, anotando as palavras-chave mais significativas num painel.
2ª etapa
Forme duplas e peça que façam a descrição da obra, anotando no caderno todos os elementos que percebem na figura.
Circule pela classe incentivando os alunos a dizer tudo o que estão vendo – o corpo volumoso do touro, os grandes chifres e os olhos que parecem vazios.
O animal está de pé, no centro da imagem fitando o leitor, rodeado por formas verticais e volumosas.
Socialize os elementos mais importantes no painel, embaixo do título “descrição”.
3ª etapa
Inicie a etapa de análise pedindo que os alunos verifiquem as relações entre os planos.
O que será o plano convexo de cores claras?
E o plano côncavo, o que representa?
E os volumes verticais?
Eles precisam descobrir qual é a figura principal da pintura.
Qual o significado da imagem do animal?
A que tipo de valores ou ideias o touro costuma ser associado?
Por que ele foi pintado no centro daquele espaço estranho?
Onde ele está?
E por que os olhos e o corpo do touro têm aquela forma e aquela cor?
Anote novamente as principais contribuições, dessa vez sob o título “análise”.
4ª etapa
Realize um pequeno debate para explorar a interpretação do quadro.
Nessa fase, entram em cena emoções, referências pessoais e visões de mundo.
Favoreça a conversa lançando algumas questões: que sentimentos a imagem expressa?
Que aspectos de sua vida se relacionam a ela?
Qual sua opinião sobre a obra?
As respostas devem ser consideradas como hipóteses que precisarão ser confrontadas com informações de pesquisas feitas pelos jovens.
Uma opção é pedir, por exemplo, que eles comparem suas opiniões com as expressas no texto Dissecando O Touro de Tarsila do Amaral: Possibilidades de Leitura de uma Obra de Arte, de Teresa Cristina Melo da Silveira, disponível na internet no endereço
5ª etapa
Amplie o conhecimento da produção artística levando a turma a investigar o contexto de produção da pintura. Citando a artista, a obra e o ano em que ela obra foi produzida – 1928 –, convide todos a entrar no sitetarsiladoamaral.com.br para conhecer outros de seus trabalhos. Passeie pela galeria de produções da artista e leve-os a estabelecer um diálogo entre O Touro e obras como Paisagem com Touro e O Sono, observando semelhanças e diferenças de forma e conteúdo.
Em enciclopédias de arte, peça que a turma pesquise sobre o surrealismo e o modernisno, movimentos a que a pintora esteve vinculada, procurando relacionar entre essas vanguardas e a produção de Tarsila.
6ª etapa
Incentive os jovens a criar um objeto cultural que consolide a leitura.
Eles podem trabalhar, por exemplo, reconstruindo e ampliando algum fragmento do quadro, construindo imagens baseadas nas várias obras que apareceram durante a leitura ou montando um painel com diferentes figuras de touro destacadas por outros artistas.
Organize as produções para que o grupo perceba como a leitura de uma obra possibilita a concepção de trabalhos.
Avaliação:
Nas atividades de descrição, análise, interpretação e contextualização, verifique se a turma identifica e registra os principais elementos da obra, a forma como foi realizada, os diálogos que ela trava com outras produções da pintora e de outros artistas na época em que foi feita.
Na produção, procure avaliar de que forma a leitura do quadro influi nas novas criações pedindo aos autores um texto explicativo dos trabalhos.
Fonte:http://revistaescola.abril.com.br/arte/pratica-pedagogica/leitura-quadro-producao-comentario-525536.shtml
Fonte:http://revistaescola.abril.com.br/arte/pratica-pedagogica/leitura-quadro-producao-comentario-525536.shtml
Um mundo de imagens para ler
Ao desvendar o universo visual de seu cotidiano, o aluno vai conhecer melhor a si mesmo, compreender sua cultura e ampliá-la com a de outros tempos e lugares.
Veja aqui a matéria completa:
http://revistaescola.abril.com.br/arte/pratica-pedagogica/mundo-imagens-ler-426380.shtmlAchei interessante:
A consultora Mirian Celeste Martins mostra, a seguir, como observar objetos do cotidiano e aprender com eles.
Se você escolher outros materiais para explorar com seus alunos, é preciso adaptar as questões.
O primeiro passo é fazer uma descrição detalhada, para conhecer as características e funções.
Em seguida passe às perguntas.
· Em sua casa as pessoas têm o hábito de tomar café e/ou oferecê-lo às visitas?
· Quais as semelhanças e diferenças entre as xícaras ao lado?
Descreva-as.
· Para que serve cada um de seus elementos?
Por que foram desenhados assim?
· Todas estas xícaras são utilizadas hoje?
Onde?
Por quem?
· É possível estimar em que época elas foram feitas?
Quais elementos levam a essas hipóteses?
Por quem foram produzidas?
Em que época?
· O que essas imagens provocam em você?
Perceba suas emoções e sensações.
· Como seu corpo reage às três xícaras e à obra de Regina Silveira?
· O que podemos pensar sobre os hábitos de nossa cultura?
· Outros povos têm costume de tomar café? Eles produzem outros tipos de xícara?
· Por que os americanos tomam a bebida em xícaras grandes?
Por que os árabes costumam ler a borra do café que fica no fundo da xícara?
· Como seria nosso auto-retrato como xícara?
Que tipo de xícara seríamos?
· O que se pode criar com base nas imagens acima?
É possível inventar histórias para cada uma, criar personagens com as mesmas características das xícaras?
Escrever, desenhar, dramatizar, dançar, esculpir uma cena dessa história?
Criar um novo desenho de xícara, pensando em quem tem um grande bigode ou um enorme nariz?
Link para essa postagem
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe seu comentário e retornarei assim que for possível.
Obrigada pela visita e volte mais vezes!
Linguagem não se responsabilliza por ANÔNIMOS que aqui deixam suas mensagens com links duvidosos. Verifiquem a procedência do comentário!
Nosso idioma oficial é a LINGUA PORTUGUESA, atenção aos truques de virus.
O blogger mudou sua interface em 08/2020. Peço desculpas se não conseguir ainda ler seu comentário.