Milho,Espantalho e São João
Os ritmos, os sons rimados e o falar coletivo constituem elementos de equilíbrio e concentração, e permitem às crianças aprender através da vivência lúdica dos conteúdos.
Uma fala permeada de vida com forma e plena de beleza sonora atua como o fundamento que alimenta e sustenta o desenvolvimento do ser.
O adulto em geral não presta atenção aos órgãos que produzem a fala, pois está voltado para o conteúdo da mesma, querendo expressá-lo.
Quando a criança, no entanto, começa a sentir os movimentos dos sons a partir dos lábios, da língua e do palato, quando a fluidez e o ritmo da fala se regulam na respiração e a expressão da fala é exercitada, ela vivencia uma grande alegria.
Este sentimento atua nas forças da fantasia da criança, que a protegem do envelhecimento precoce.
As crianças de hoje recebem um excesso de linguagem prosaica em detrimento da linguagem poética.
Esse excesso assusta e retrai a criança, e ela se torna rapidamente um adulto sem sê-lo.
A poesia ilumina interiormente o ser humano e o fortalece, preparando-o para lidar vigor nas tarefas do dia a dia.
A fala ritmada vitaliza a criança e abarca seu próprio corpo, atuando na relação entre o ritmo da respiração e o da pulsação.
Isso permeia seu ser interior.
Assim o artista, com a poesia, introduz o homem em outro ambiente, diferente do da fala prosaica.
Pedagogia Waldorf
A lenda do milho
Maria Luiza Freitas Guimarães
Tema: Festa de São João - adaptação livre em verso
Há tempos que há muito se foram,
dois índios amigos viviam
em busca da caça e da pesca
e todos os seus bens repartiam.
Num dia houve extrema escassez,
a pesca e a caça sumiram,
rezaram ao Deus Nhandeyara
e um novo alimento pediram.
Então numa noite escura
em meio a um clarão prateado,
surgiu um valente guerreiro
por Nhandeyara enviado.
“Tereis vós o vosso alimento,
mas antes tereis que lutar
e aquele que for o mais forte
ao outro irá sepultar”.
Avaty, que era o mais fraco,
no embate foi derrotado
e, pelo seu fiel amigo,
seu corpo foi enterrado.
O pranto de dor do amigo
a cova de Avaty regou,
e um dia, em pleno inverno,
uma verde folhagem brotou.
E nela, espigas doiradas,
suculentos grãos escondiam,
cabelos de luz encarnada
que à luz do sol reluziam.
O nutritivo cereal
passou a ser cultivado
e, em homenagem ao Índio,
de Avaty foi chamado.
E aqui nesta noite tão bela
onde reina amor e união,
vem saborear Avaty
E celebrar o São João!
Festa de São João - Jogral
Ruth Salles
A sugestão para este jogral, é que, entre cada estrofe, classes de crianças menores se apresentassem com cantos e danças típicas de cada região do Brasil.
A classe pode se dividir em 7 coros.
CORO 1:
- Êh, São João,
deixe um pouco sua barca no rio Jordão
e venha ver o que fez para você
esta moçada que aqui se vê
nesta terra de sol e de praia,
de pampa que se espraia,
de mata e de flor.
Com muito amor,
a terra coleciona
o que o vento do tempo foi deixando
e a memória do povo está lembrando...
Êta jongo, cateretê, abanhenhenga!
Êta jongo, cateretê, abanhenhenga!
Êta Mongo Véio cirandando em mito e lenda!
Quem foi que dançou?
Quem foi que contou?
Foi o índio, foi o negro, foi o branco?
Foi essa mistura de raça,
essa trindade que se entrelaça?
Êta bonita lenga-lenga,
jongo, ciranda, cateretê, abanhenhenga!
CORO 2:
- Êh, São João viajante!
Teu coração não se expande
ao passar por terra tão grande?
Olha a sudeste, a Natureza em festa,
que o violeiro canta em sua seresta.
Ouve o pronto desafio, aprecia o recortado,
o vai-vem do sapateado!
- Puxa a fieira, companheiro!
Êh caixa, reco-reco e pandeiro!
CORO 3:
- Viajante, olha agora o centro-oeste,
o pantanal agreste,
o joão-de-barro, o jaburu,
o saci-pererê fazendo um sururu,
deixando na clareira e na espessura
seu rastro de travessura.
Olha o garimpeiro,
o caçador de onça brava
e o peão de boiadeiro
tocando a boiada!
Vamos, viajante, apronta a vista
e escuta a viola do repentista!
CORO 4:
- Vamos agora para o norte, viajante,
lá onde a pororoca é alucinante,
onde o Amazonas ao sol dourado
é uma lista de prata
riscando o verde da grande mata!
Olha o boi, olha o boi, olha o boi bumbá!
Êh, meu boi surubim, êh boi brabo!
Se ele foge de mim, eu o pego pelo rabo!
CORO 5:
- Olha os pampas do sul, São João,
o gaúcho com seu chimarrão!
Olha a estância apinhada de gauchada,
a tomar mate e correr eguada!
O boi cai com boleadeira e tudo!
Êta, divertimento macanudo!
Olha a gauchinha, prenda minha,
que vai dançar, pra gente apreciar!
CORO 6:
- Olha bem o nordeste, viajante:
dunas claras, soalheiras rubras,
o babaçu, a carnaúba.
Olha a rês mandigueira subindo o oiteiro!
Cuidado! Tens boas alpercatas?
Há um pé de oiticoró entre os cactos chatos.
O vento dança um maracatu
com seu zumbe-zumbe.
Será mesmo um zumbido que está soando?
Ou será o Zumbi chamando?
CORO 7:
- Já mostramos nossa mostra,
já cantamos nosso canto,
mas o Brasil brasileiro, terra grande,
abre as portas para fora –
se espalha por todo canto.
Veio da França uma dança!
Vamos ver como se dança!
É a quadrilha do salão imperial,
e contra-dança era o nome oficial,
mas é mudança de palavra, é mudança sim!
Contra-dança quer dizer:
“COUNTRY-DANCE”!
É a dança do campo!
Vamos ver a quadrilha, pessoal!
O espantalho com o paletó xadrez
Marciano Vasques
Debaixo da aba
do chapéu do espantalho
o sol doura ternos trigais.
( Sugestão para milharais)
Verduras em seus olhos repousam.
Ele colhe almas leguminosas e asas luminosas.
Seu tórax azul aquece aves e invernos.
Pipas desfiam azuis,revelando manhãs.
O espantalho,com seu paletó xadrez,
cravo vermelho na lapela,
guarda horizontes,romãs,
moinhos,montes de feno,a capela.
Enquanto a infância
empina o dia.,
seu espelho.
Livro Espantalhos
Editora Noovha America
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