O Uso do Vídeo em Sala de Aula
Enquanto Recurso Didático
Facilitador para o Aprendizado de História
Profª. Lourimar Teresinha Moreira Brandão
“Prepare a pipoca da turma e faça um convite irresistível: passar a tarde numa sessão de cinema”.
Com o interesse garantido, o programa pode se tornar um aliado do educador.
Mas, para a sétima arte não cair no puro lazer, faça um planejamento com critério.
“A exibição de uma fita deve sempre ser precedida de boa preparação”, recomenda Marialva Monteiro, responsável pelo Cineduc, do Rio de Janeiro.
No caso da turma de 8ª série da Escola Estadual Professor Fidelino Figueiredo, da capital paulista, o professor de História Édson Rodrigues Pita Júnior pediu:
“Observem como são as coisas, as mobílias, o transporte, o hábito e a moda”.
As dicas eram pertinentes. Seus alunos foram assistir o Policarpo Quaresma – Herói do Brasil. O filme, uma adaptação da obra literária de Lima Barreto, retrata o Brasil do fim do século XIX, no início da República.
Após a sessão, os alunos construíram uma linha de tempo retratando a época, buscaram informações em bibliotecas e museus e relacionaram os acontecimentos do filme com os dias de hoje.
Ao optar pelo trabalho didático com filmes que abordam temas históricos, o educador precisa ter consciência de que eles estão impregnados de visões de mundo, tentativas de explicação, constituição e recriação.
Tornam-se valiosas as situações em que o professor seleciona duas ou três fitas que retratam um mesmo período histórico e estabelecem relações com os alunos: se as mesmas possuem concordâncias ou divergências no tratamento do tema, no modo como reconstituem cenários, na escolha de abordagem, no destaque às classes oprimidas ou vencedoras, na defesa de idéias pacifistas ou fascistas.
Todo o esforço do educador deve ser empenhado para mostrar que, à maneira do conhecimento histórico, o filme também é feito irradiando sentidos e verdades plurais.
A sugestão da segunda fita objetiva a percepção dos alunos quanto concordâncias ou divergências. A qual pode ser enriquecida com uma pesquisa em sites específicos sobre o assunto.
A análise e a discussão e o fechamento sobre o assunto sempre deve ocorrer em sala de aula numa via que é dialógica entre os educandos e o educador.
Por esse olhar, a exibição de filmes em classe pode resultar em um momento de crítica e aprofundamento do tema – como o evidenciado no filme: A missão[1], ou transformar-se numa simples sessão da tarde, pura diversão para a turma.
Na Revista Nova Escola, em matéria veiculada no mês de maio de 2005, o professor Gerson Egas Severo[2] afirma que: ”as imagens não podem ser utilizadas como ilustração de uma aula e muito menos substituir o discurso do professor. Quando isso acontece a informação cai no vazio, os alunos não aprendem nada e se perde uma oportunidade maravilhosa de ensinar (Revista Nova Escola, maio, 2005, p.47).
Tal postura do educador não inválida, obviamente, a leitura e a escrita, no entanto, incorpora uma ferramenta que auxilia muito a aprendizagem e coloca o educando em contato com uma nova maneira de pensar e entender a história.
Em tempos de pós-modernidade onde as informações processam-se de maneira acelerada, é inegável a contribuição da tecnologia na sala de aula na medida em que esta altera as formas de pensamento e de expressão, onde a imagem é um ícone extremamente relevante.
Há aproximadamente 5 ou 6 décadas atrás, o pensador Célestin Freinet (1896-1966) já ponderava a necessidade do educador reconhecer e utilizar esses recursos, e brilhantemente a frente de seu tempo, leciona Freinet: a desordem cultural persistirá enquanto a escola pretender educar as crianças com instrumentos e sistemas que tiveram validade há 50 anos (...) substituirão as lições, os braços cruzados, as memorizações, enquanto fora da escola haverá uma avalanche de imagens e de cinema.(Revista Nova Escola, maio, 2005, p.48)
O professor Severo, estudioso do potencial educativo dos filmes ressalta que é primordial aproveitar os meios visuais para dar sentido aos conteúdos de História.
Para ele: “nenhuma fala por si só. Para que ela seja realmente útil na aprendizagem, é essencial a intervenção do professor”.
Isso é válido não só para o cinema mas também para a T.V. e os computadores. (Revista Nova Escola, maio, 2005, p.48)
Para Flávio Trovão[3], um filme não precisa ser passado na integra para a classe, apenas quando os alunos pedem.
“Há o risco de o professor gastar mais de uma aula com a exibição e o aluno não entender aonde ele queria chegar”.
Em sua experiência com vídeo, Trovão relata que seleciona as cenas mais importantes para o conteúdo que está trabalhando e outras vezes parte do filme para iniciar uma discussão ou um tema.
Antes da exibição, distribui um roteiro de perguntas que servem para orientar os alunos.
Do que trata o filme?
Onde se desenvolve a maior parte das cenas?
Que cenas mostram conflitos?
Qual a mensagem? (Revista Nova Escola, maio, 2005, p.49).
A seguir elencamos algumas sugestões de Trovão para preparar a aula de História com vídeo:
Ø Assista ao filme mais de uma vez e veja se é preciso passá-lo na íntegra ou apenas partes selecionadas.
Ø Observe se existem cenas desapropriadas para a faixa etária dos alunos.
Ø Deixe claro para a turma que o filme representa um episódio histórico, mas não é a realidade.
Ø Prepare um roteiro de perguntas e alerte os alunos para perceberem os conflitos, o tema e personagens.
Ø Deixe claro que o filme na escola é um recurso didático e uma forma de conhecimento, e não mero entretenimento ou uma maneira de “matar a aula”.
O cinema no ensino pode usado para:
Iniciar a discussão de um assunto ainda não abordado.
Lance uma questão a ser investigada.
Desenvolver o conteúdo.
O aluno deverá perceber o contexto histórico a que o filme se refere, o que ele está mostrando que fenômenos e fatos são retratados.
Nesse caso, o aluno já possui referências sobre o tema.
Em ambas as situações, explore a estrutura narrativa e como ela foi desenvolvida no filme.
Moran[4], com muita propriedade acrescenta que o vídeo ajuda a um bom professor, atrai alunos, mas não modifica substancialmente a relação pedagógica. Aproxima a sala de aula do cotidiano, das linguagens de aprendizagem e comunicação da sociedade urbana, mas também introduz novas questões no processo educacional.
Entretanto, pondera o mesmo, o uso do vídeo em sala de aula é inadequado quando é utilizado como: - Vídeo tapa buraco; - Vídeo enrolação; - Vídeo deslumbramento; - Vídeo perfeição; - Só Vídeo.
No entanto, Moran a exemplo de Trovão propõe a utilização de algumas formas do trabalho com o vídeo em sala de aula.
A saber: vídeo como sensibilização, vídeo como ilustração e vídeo como simulação, como conteúdo ou outros.
Como ver o vídeo:
- Antes da exibição: informar somente aspectos gerais do vídeo; checar som, canal e outros.
- Durante a exibição: Anotar as cenas mais importantes, se necessário faça a pausa da fita, a qual deve ser rápida apenas para algum comentário; observar as reações do grupo.
- Depois da exibição: Voltar a fita ao começo; rever as cenas mais importantes; passar quadro a quadro as imagens mais significativas.
Moran propõe algumas dinâmicas de análise para o uso do vídeo enquanto conteúdo de ensino:
- Análise em conjunto: é uma conversa sobre o vídeo, tendo o professor como moderador. O professor não deve ser o primeiro a dar opinião. Deve posicionar-se, depois dos alunos, trabalhando sempre dois planos: o ideal e o real.
- Análise Globalizante: fazer estas quatro perguntas: aspectos positivos do vídeo; aspectos negativos; idéias principais que passa e o que vocês mudariam neste vídeo.
- Análise Concentrada: escolher depois da exibição uma das cenas marcantes e revê-las. Perguntar oral ou por escrito: o que chama mais atenção; o que dizem as cenas; conseqüências.
- Análise Funcional: antes da exibição escolher algumas funções ou tarefas (desenvolvidas por vários alunos). Ex.: o contador de cenas, anotar as palavras chaves, anotar as imagens. Após a exibição cada aluno fala e o resultado é colocado no quadro.
- Análise da linguagem: que história é contada (reconstrução da história); como é contada essa história; modelo de sociedade apresentado; valores afirmados e negados.
Outra dinâmica interessante é dramatizar situações do vídeo assistido e discuti-los comparativamente.
Ex.: Alguns alunos escolhem personagens de um determinado vídeo e os representa, adaptando-os à sua realidade. Depois se comparam os personagens do vídeo e os da representação.
A seguir relacionamos os dez melhores filmes para explorar os conteúdos de História de 5ª a 8ª séries:
A CONQUISTA DO PARAÍSO (1492 – Conquest of Paradise), Estados Unidos, 1992, 154 min., direção de Ridley Scott, Paramount Pictures.
Conteúdos: grandes navegações; Inquisição; descobrimento da América.
DESMUNDO, Brasil, 2003, 101 min., direção de Alain Fresnot, Columbia Filmes.
Conteúdos: Brasil-Colônia; escravidão indígena, sociedade colonial. CARLOTA JOA-QUINA
PRINCESA DO BRAZIL, Brasil, 1995, 100 min., direção de Carla Camuratti, Europa Vídeo.
Conteúdos: a vinda da família real portuguesa para o Brasil; guerras napoleônicas; o período que antecede a independência.
FORREST GUMP, EUA, 1994, 142 min., direção de Robert Zemeckis, Paramount Filmes.
Conteúdos: história dos Estados Unidos dos anos 1960 e 1970; movimento hippie; guerra do Vietnã; caso Watergate; racismo; aids.
GUERRA DO FOGO (La Guerre du Feu), França, 1981, direção de Jean-Jaques Annaud, Fox Home Vídem.
Conteúdos: pré-história, descobrimento da tecnologia do fogo; origem da linguagem humana.
O DESCOBRIMENTO DO BRASIL, Brasil, 1937, direção de Humberto Mauro, 90 min., D.B.F. (Distribuidora de Filmes Brasileiros).
Conteúdos:descoberta do Brasil; o processo de expansão marítima e comercial portuguesa nos séculos 15 e
16.
TEMPOS MODERNOS (Modem Times), Estados Unidos, 1936, 87 min., direção de Charles Chaplin, United Artists.
CONTEÚDOS: fordismo; revolução industrial; movi-mento proletário; industrialização e urbanização. O
NOME DA ROSA (Der Name der Rose)) Itália, França, Alemanha, 1986, 130 min., direção de Jean-Jacques Annaud, Flashstar Filmes.
CONTEÚDOS:igreja medieval; Inquisição; indulgências; filosofia medieval agostiniana e tomista. ILHA DAS FLORES, Brasil, 1989, 13 min., direção de Jorge Furtado, documentário
(o filme está disponível para dowmload no site
CONTEÚDOS:glo baLização; capitalismo; injustiça social, consumismo.
O VELHO – A HISTÓRIA DE LUIS CARLOS PRESTES, Brasil,1977, 105 min., direção de Toni Venturi, docu-mentário, VerSátil Home VíDeo.
Conteúdo:Movimento comunista brasileiro; Coluna Prestes; trajetória dos partidos de esquerda.
Referências:
Revista Nova Escola. Nº. 182, ANOXX, São Paulo: Editora Abril S.A., Maio, 2005, p.46-51.
Sites consultados
José Manuel Moran.
Sites que poderão ser visitados
http://www.cinemark.com.br/ - para conhecer o projeto escola das salas Cinemark, presentes em oito capitais brasileiras.
http://www.novaescola.com.br/- você assiste trecho do filme Quimo - Memória, dos professores Josafá Pereira da silva e Inês dos Santos sobre uma fábrica em São Miguel paulista (SP).
www.sgi.ms.gov.br/pantaneiro/sites/sed ( portal da educação, professores,ensino fundamental, agenda)
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