Texto:
Artigo de revista “Cordel, a palavra encantada”, de Sheila Kaplan.
Objetivos:
Explorar com o aluno as características do gênero textual artigo de revista.
Levá-lo a compreender as informações contidas no texto.
Comparar as diferenças e semelhanças entre um poema de cordel e um artigo de revista.
Estabelecer relações entre os gêneros cordel e artigo.
Conhecer a arte de xilografia.
Fazer com que percebam que a temática dos cordéis pode ser variada.
Cordel a palavra encantada
O cordel veio da Europa no fim do século passado. No Nordeste do Brasil ele foi bem implantado e os poetas conseguiram com ele bom resultado. Como conta a poeta José Francisco Borges nesses versos, o cordel, esse gênero tão brasileiro e popular de poesia,não é uma invenção nossa. Essa literatura, que tem o nome de cordel porque os folhetos ficavam pendurados em cordões nos locais de venda, veio de Portugal. Aqui, chegou junto com o s colonos e encontrou um solo fértil. Tanto que até hoje é uma tradição forte e viva, principalmente no Nordeste do país.
No início, os temas do cordel estavam ligados à divulgação de histórias muito antigas, que vinham encantando os povos há séculos, transmitidas oralmente de uma geração a outra. Histórias como a da Princesa Magalona, filha do rei de Nápoles e apaixonada pelo conde Pierre,que vive as maiores aventuras e desventuras até se reencontrar como o noivo. Ou de Carlos Magno e os Doze Pares de França, narrativa com muitas batalhas que se espalhou por todo o sertão e inspirou nossos cantadores. Mas,quase ao mesmo tempo em que partia dos antigos romances ou novelas de amor e de cavalaria,das narrativas de guerras e conquistas marítimas, o cordel passou também a retratar os acontecimentos recentes. Quando não havia jornais, rádio ou televisão, a poesia popular ocupou esse espaço por meio de cantorias e,mais tarde,também da forma escrita – os folhetos impressos em tipografias rústicas e vendidos nas feiras. Virou um dos meios mais importantes de divulgação dos fatos que despertavam o interesse do povo. Podiam ser os feitos de Lampião, Maria Bonita e outros cangaceiros famosos, o registro de secas e enchentes, vaqueiros e vaquejadas,santos e milagres,crimes,etc. Ariano Suassuna, autor de O Auto da Compadecida e que é também um dos maiores estudiosos da nossa cultura,classifica em dois tipos a poesia popular do Nordeste: o tradicional,com as narrações sobre heróis,amores,religião,etc, e o improvisado,cujos versos são criados no calor da hora pelos cantadores,muito comum principalmente nos desafios.
Luta com palavras
Os cantadores sertanejos atravessam grandes distâncias, movidos pelo prazer do enfrentamento. Quando tem início a peleja, ou desafio,cada um,violão em punho,improvisa seus versos a fim de derrotar o outro. Um duelo poético que surpreende e encanta o público, que acompanha atentamente a disputa. Nessa “luta”,as armas que valem são a imaginação, a rapidez do pensamento e a habilidade com a palavra.
O desafio começa com cada um dos cantadores puxando a brasa para sua sardinha. Fazem, na apresentação, o auto – elogio, contando seus feitos criticando o adversário. O tom jocoso (de alegre) é muito usado, divertido para quem assiste à disputa. Depois os poetas louvam as pessoas presentes: dona de casa, filhas, etc. È só um aquecimento para a peleja (luta) que prossegue cada vez mais acirrada, até a derrota de um dos participantes.
Um dos truques para atrapalhar o outro é, lá pelo meio da cantoria mudar a forma da poesia, que costuma ir da mais comum, a sextilha (com estrofes de seis versos ou sete sílabas),até gêneros como o “martelo agalopado”
(dez versos de dez sílabas). O improviso corre solto e os desafios podem durar, até noites inteiras.
Alguns desafios ficaram célebres, como o do Cego Aderaldo e Zé Pretinho do Tucum. Abaixo, alguns momentos dessa brilhante disputa, narrada pelo Cego Aderaldo:
Apreciem meus leitores
Uma forte discussão
Que tive com Zé Pretinho
Um cantador do sertão
O qual no tanger do verso
Vencia qualquer questão.
(...)
P- Sai daí, cego amarelo
Cor de ouro de toucinho
Um cego da tua forma
Chama- se abusa viszinho
Aonde eu botar os pés
Cego não bota o toucinho.
C- Já ví que seu Zé Pretinho
È um homem sem ação
Como se maltrata outro
Sem haver alteração
Eu pensava que o senhor
Possuísse educação.
P- Esse cego bruto hoje
Apanha que fica roxo
Cara de pão de cruzado
Testa de carneiro mocho
Cego, tu és um bichinho
Que quando come vira o cocho.
C- Seu José, o seu cantar
Merece ricos fulgores
Merece ganhar na sala
Rosas e trovas de amores
Mais tarde as moças lhe dão
Bonitas palmas de flores.
(...)
C- Amigo José Pretinho
Eu não sei o que será
De você no fim da luta,
Porque vencido já está
- quem a paca cara compra
Paca cara pagará.
E segue a cantoria,com os dois competidores exibindo seu talento para a alegria do povo...
Sheila Kaplan.In: Revista Ciência Hoje das Crianças,ano 17,n.144.Rio de Janeiro,Instituto Ciência Hoje,março/2004.
Respondendo:
1-Você leu um artigo, um texto jornalístico. Qual a função de um texto como esse?
2- Em que veículo de comunicação esse artigo foi publicado?
3- O que você entendeu do título do texto?
4- Segundo a leitura desse texto, o cordel veio de onde?
5- Que assuntos eram abordados nos cordéis, no início de seu surgimento no Brasil?
6- De que maneira são realizados os desafios entre os cantadores de cordel? 7- Em determinado período, o cordel tornou-se o mais importante meio de divulgação dos acontecimentos de interesse público. Nessa época, ele ocupava o espaço de que meios de comunicação de nossa atualidade?
8- No segundo parágrafo após o subtítulo “Luta com as palavras”, aparece a seguinte expressão de nossa língua: “ puxando a brasa para a sua sardinha.” Explique o significado dela.
9- Geralmente, os poemas de cordel são ilustrados por meio de um processo artesanal em que os desenhos são esculpidos (talhados) em madeira e depois estampados no papel. As ilustrações produzidas desse modo são chamadas XILOGRAVURAS.
Vejam alguns modelos:
Imagens de xilogravuras retiradas da internet
http://blog.teatrodope.com.br/2007/05/09/literatura-de-cordel-xilogravura-temas-e-ensino/ Néia Maciel.
É uma tradição portuguesa de histórias contadas em versos melodiosos e vendidos em varais de cordas. Destas surge o nome “cordel”, muito popular no interior do Nordeste, onde também é conhecido como folhetos e romance, já que é vendido em bancas de jornais.
Essa arte migrou para outras regiões,sendo conhecida como patrimônio imaterial brasileiro.
Sempre impressos, os versos podem ser escritos em mais de 50 formas diferentes,variando, de um para o outro na quantidade de sílabas e na posição das rimas. No entanto a métrica escolhida para um mesmo cordel é seguida do início ao fim. Os temas também são diversificados, retratando a arte cotidiana e as tradições populares, trabalhando por preservar, principalmente, a identidade do nordestino. Os livros de cordéis são geralmente ilustrados por xilogravura, uma gravação feita em relevo a partir de uma matriz de madeira. Dela, a imagem é reproduzida em papel ou outro suporte.
(Revista Folclore- Projetos educativos- Editora Alto Astral)
Técnica Xilogravura – Leitura Instrucional
Material:
Bandejas de isopor utilizadas para embalar alimentos;
Papel sulfite;
Tinta preta, lápis, rolo ou pincel.
1- Desenhe levemente no isopor utilizando o lápis. Para esculpir force a ponta do lápis contornando o desenho.
2- Pinte a placa usando o pincel ou o rolo e a tinta.
3- Coloque a folha em cima da placa. Pressione com cuidado, para que ela não saia do lugar.
4- Retire a folha cuidadosamente, para não borrar.
Lembrete: A tinta pegará na parte saliente, ou seja, que não foi afundada pelo lápis. Quando estiverem prontos, use pregadores para pendurar os cordéis no barbante.
A utilização de bandejas de isopor não é correta em relação a preservação do meio ambiente. È bom explicar aos alunos.
Revista Projetos Escolares- Folclore- Editora On Line
Livro: Minhas rimas de cordel
César Obeid
Editora Uno
O leitor vira ouvinte
O escritor, menestrel
O ouvido vira voz
Nesse eterno carrossel
Pois apresento agora
Com carinho e sem demora
Minhas rimas de cordel.
Para rimar em cordel
No verso dou cafuné
Hoje o tema é muito rico
Falo do que p cordel é
De cultura popular
Deus me mande muita fé.
Mas somente o povo pobre
Que possui essa cultura?
Claro que não, meus amigos
Em qualquer classe perdura
Transmitida oralmente
Para a geração futura.
A cultura popular
Nascida no regional
Com respeito às diferenças
De fluência natural
Ela é sempre espontânea
Tradicionalmente oral.
Feita em todo local
Cidade, vila ou recreio
A cultura popular
Desconhece o bloqueio
Lhes oferto essa viagem
Façam um belo passeio...
Boitatá
Sextilhas
Livro: Mitos Brasileiros em Cordel
César Obeid
Editora Salesiana
Revista Projetos Folclore – Editora On Line
Quero ver adivinharem
Onde a rima faz manobra
È um mito conhecido
Que tem fogo até de sobra
Pode ter forma de touro
Ou então forma de cobra.
Seja touro ou seja cobra
Sempre cuida da floresta
Quando touro tem um olho
Bem no meio de sua testa
E se alguém queimar os campos
Ele então se manifesta.
O amigo da floresta
Engoliu olhos por lá
Para enxergar perfeitamente
Reluzente hoje está
Quem aqui sabe do mito
Claro que é o Boitatá.
Lembrem que o Boitatá
Pode ter seus dois formatos
Com sua chama ele queima
Quem põe fogo lá nos matos
Protegendo as florestas
Desses homens insensatos.
Pare já os seus sapatos
Se algum dia o encontrar
Não respire, fique imóvel
Feche os olhos sem pensar
Se você tentar fugir
Boitatá vai te pegar.
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