Copa do mundo me levou a pesquisar a Àfrica e a Àfrica me levou ao blog Bravo Afro Brasil.
De lá, trouxe esta história da àrvore da vida, que Simone,gentilmente publicou a meu pedido.
Num dia de grande calor, um lebrão parou à sombra de um baobá, sentou-se na erva e, contemplando ao longe a restolhada sob o vento a soprar, sentiu-se infinitamente bem. «Baobá», pensou ele, «como é leve e fresca a tua sombra ao braseiro do meio-dia!» Levantou o focinho para os ramos poderosos. As folhas estremeceram, felizes, devido aos pensamentos simpáticos que se lhes dirigiam. O lebrão riu-se, vendo-as contentes. Ficou calado por uns instantes e depois, piscando o olho e batendo com a língua, tomado de malícia jovial, disse:
— A tua sombra é boa, é claro, seguramente melhor do que o teu fruto. Não quero maldizer, mas o que me pende sobre a cabeça tem todo o ar de um odre de água morna.
O baobá, despeitado de ouvir assim duvidar dos seus sabores depois do elogio que lhe abrira a alma, entrou no jogo. Deixou cair o fruto num tufo de erva. O lebrão farejou-o, provou-o, achou-o delicioso. Depois devorou-o, lambeu o focinho e balançou a cabeça. A grande árvore, impaciente por ouvir o seu veredicto, susteve a respiração.
— O teu fruto é bom — admitiu o lebrão.
Depois sorriu, retomou a alegria impertinente e acrescentou:
— Seguramente é melhor do que o teu coração. Perdoa-me a franqueza: o coração que bate em ti parece-me mais duro do que uma pedra.
O baobá, ouvindo estas palavras, sentiu-se invadido por uma emoção que jamais experimentara. Oferecer a este pequeno ser as suas belezas mais secretas, Deus do céu, era seu desejo, mas, assim de repente, que medo tinha de as descobrir! Lentamente entreabriu a casca. Então apareceram colares de pérolas, panos bordados, sandálias finas, jóias de ouro. Todas estas maravilhas que enchiam o coração do baobá escorreram em profusão diante do lebrão, cujo focinho tremeu e cujos olhos se arregalaram.
— Obrigado, obrigado. És a melhor e a mais bela árvore do mundo — disse ele, rindo como uma criança satisfeita e apanhando febrilmente o magnífico tesouro.
Voltou a casa com as costas dobradas por todos esses bens. A mulher acolheu-o, pulando de alegria. Aliviou-o depressa de tão belo fardo, vestiu panos e sandálias, ornou o pescoço de jóias e saiu para o mato, impaciente de ser admirada pelas companheiras.
Encontrou uma hiena. Esse cadáver, ofuscado pelas invejáveis riquezas que passavam por si, foi imediatamente à toca do lebrão e perguntou-lhe onde tinha encontrado aqueles ornamentos soberbos com que se vestia a esposa. O outro contou-lhe o que tinha dito e feito à sombra do baobá.
A hiena correu para lá com os olhos inflamados, ávida dos mesmos bens. Jogou o mesmo jogo. O baobá, que a alegria do lebrão tinha verdadeiramente rejubilado, de novo se agradou de dar a sua frescura, depois a música da sua folhagem e o sabor do seu fruto, finalmente a beleza do seu coração.
Mas, quando a casca se abriu, a hiena atirou-se às maravilhosas oferendas como sobre uma presa e, escavando com unhas e dentes as profundezas da velha árvore para dela ainda arrancar mais coisas, pôs-se a resmungar:
— E nas tuas entranhas o que há? Também quero devorar as tuas entranhas! Quero tudo o que tens até às tuas raízes! Quero tudo, ouves?
O baobá, ferido, dilacerado, tomado de medo, guardou os seus tesouros, e a hiena, insatisfeita e furiosa, voltou de mãos vazias para a floresta. Desde esse dia que procura desesperadamente oferendas ilusórias nos animais mortos que encontra, sem nunca ouvir a brisa singela que acalma o espírito. Quanto ao baobá, já não abre a ninguém o seu coração. Tem medo. É preciso compreendê-lo: o mal que lhe fizeram é invisível, mas incurável.
Em verdade, o coração dos homens é semelhante ao desta árvore prodigiosa: cheio de riquezas e benefícios. Porque se abrirá tão pouco, quando se abre? De que hiena se lembrará?
(recriação de Henri Gougaud)
A Árvore dos Tesouros-tradução de Maria do Rosário Pedreira
FONTE:http://www.portaldacrianca.com.pt/ler1historiap.php?id=81 Acessado em 04/06/2010
Teatro: O coração do baobá
Cena 01
O espetáculo inicia com uma chegança, uma música alto astral que apresenta o Baobá, suas características, etc. Todo o elenco dança em torno da árvore, em seguida se retiram do palco.
Cena 02
A Bisavó de Randa, despede-se poeticamente do mundo, argumenta que deseja habitar o interior do Baobá, pois sabe que enquanto o Baobá viver, sua alma e a memória de seu povo também viverão.
Cena 03
Até agora existem duas possibilidades de resolvermos a cena em que a Bisa entra no tronco do Baobá. A primeira: A árvore existe e é coberta por um facho de luz, à medida que a personagem entra a luz vai baixando. A árvore permanece no palco, mas as crianças não podem identificá-la. Segunda possibilidade: A cena inteira será trabalhada com sombras.
Cena 04
Música ou ação, indicando passagem de tempo.
Cena 05
As crianças se reúnem, interagem e socializam seus sonhos. Todas sonham com o Baobá e Randa além de sonhar com o Baobá sonha com sua Bisavó, pessoas que ela não chegou a conhecer. Todas as crianças têm riqueza de detalhes a respeito da árvore.
Cena 06
As crianças adormecem no palco e sonham coletivamente, neste momento personagens lúdicos ocupam o palco ao som de uma música?...
OBS: Uma outra possibilidade é o enredo acontecer direto no sonho. Assim Randa sonha primeiro com sua Bisa e depois com o Baobá, em seguida encontra outras crianças que estão em diferentes partes do planeta e sonhando a mesma coisa.
Cena 07
As crianças se vêm envolvidas por um desafio, encontrar a primeira semente de Baobá. O Baobá é uma árvore sagrada, vive de 1.000 a 6.000 anos, pode armazenar até 120.000 litros de água, serve de abrigo eterno para os griots, importantes personagens da tradição africana, pois guardam a memória do povo. Acontece que por conta da poluição, desmatamento, aquecimento global, da ganância desmedida que extrai da natureza mais do que ela pode suportar e ainda da maldade humana, do preconceito e da indiferença, o Baobá corre risco de extinção, e toda a memória guardada por este gigante pode simplesmente desaparecer, como toda a história do povo da Bisavó de Randa. A primeira semente de Baobá é a única salvação para esta situação, somente ela poderá garantir a existência da árvore e resgatar parte da dignidade humana.
Cena 08
Apesar do Baobá estar presente no palco, as crianças não conseguem visualizá-lo. Mas á medida que vão avançando em sua busca a árvore vai ficando cada vez mais visível. A busca pode consistir na realização do jogo de origem africana Mancala, que fundamenta-se na distribuição de sementes no campo, trabalha com a lógica da semeadura e colheita. A cada avanço no jogo, as crianças passam apara uma nova fase e vão se aproximando da semente.
Apesar do Baobá estar presente no palco, as crianças não conseguem visualizá-lo. Mas á medida que vão avançando em sua busca a árvore vai ficando cada vez mais visível. A busca pode consistir na realização do jogo de origem africana Mancala, que fundamenta-se na distribuição de sementes no campo, trabalha com a lógica da semeadura e colheita. A cada avanço no jogo, as crianças passam apara uma nova fase e vão se aproximando da semente.
Cena 09
Trabalhar com o conto “O coração do Baobá”, considerando que o Baobá está fechado para o mundo por conta da falta de respeito pela natureza. As crianças, porém, ao aceitarem o desafio de encontrar a semente, enfrentarem todas as dificuldades para salvar a árvore, mostram ao Baobá que nem tudo está perdido e que ainda existe possibilidade de mudança, sendo assim, o Baobá se mostra e se mostra para as crianças.
Abaixo o conto, versão de Celso Sisto:
O coração do baobá
No coração da África, havia uma extensa planície. E no centro dessa planície, erguia-se uma alta e frondosa árvore. Era o baobá.
Um dia, embaixo do sol escaldante do meio-dia africano, corria pela planície um coelhinho, que, exausto, suado, quando viu o baobá, correu a abrigar-se à sua sombra. E ali, protegido pela árvore, ele se sentiu tão bem, tão reconfortado, que olhando para cima não pôde deixar de dizer:
- Que sombra acolhedora e amiga você tem, baobá! Muito obrigado!
O baobá, que não costumava receber palavras de agradecimento, ficou tão reconhecido, que fez balançar os seus galhos e tremular suas folhinhas, como numa dança de alegria.
O coelho, percebendo a reação da árvore, quis aproveitar-se um pouquinho da situação e disse assim: - É, realmente sua sombra é muito boa.... Mas e esses seus frutos que eu estou vendo lá em cima? Não me parecem assim grande coisa...
O baobá, picado no seu amor próprio, caiu na armadilha. E soltou, lá de cima de seus galhos, um belo e redondo fruto, que rolou pelo capim, perto do coelhinho. Este, mais do que depressa, farejou o fruto e o devorou, pois ele era delicioso. Saciado, voltou para a sombra da árvore, agradecendo:
- Bem, sua sombra é muito boa, seu fruto também é da melhor qualidade. Mas.... e o seu coração, baobá? Será ele doce como seu fruto ou duro e seco como sua casca?
O baobá, ouvindo aquilo, deixou-se invadir por uma emoção que há muito tempo não sentia. Mostrar o seu coração? Ah... Como ele queria.... Mas era tão difícil.... Por outro lado, o coelhinho havia se mostrado tão terno, tão amigo.... E assim, hesitante, hesitando, o baobá foi lentamente abrindo o seu tronco. Foi abrindo, abrindo, até formar uma fenda, por onde o coelho pôde ver, extasiado, um tesouro de moedas, pedras e jóias preciosas, um tesouro magnífico, que o baobá ofereceu a seu amigo. Maravilhado, o coelho pegou algumas jóias e saiu agradecendo:
- Muito obrigado, bela árvore! Jamais vou te esquecer!
E chegando à sua casa, encontrou sua esposa, a coelha, a quem presenteou com as jóias. A coelha, mais do que depressa, enfeitou-se toda com anéis, colares e braceletes e saiu para se exibir para suas amigas. A primeira que ela encontrou foi a hiena, que, assaltada pela inveja, quis logo saber onde ela havia conseguido jóias tão faiscantes. A coelha lhe disse que nada sabia, mas que fosse falar com seu marido. A hiena não perdeu tempo: foi ter com o coelho, que lhe contou o que havia acontecido.
No dia seguinte, exatamente ao meio-dia, corria a hiena pela planície e repetia passo a passo tudo o que o coelho lhe havia contado. Foi deitar-se à sombra do baobá, elogiou-lhe a sombra, pediu-lhe um fruto, elogiou-lhe o fruto e finalmente pediu para ver-lhe o coração.
O baobá, a quem o coelhinho na véspera havia tornado mais confiante e mais generoso, dessa vez nem hesitou. Foi abrindo o seu tronco, foi abrindo, bem devagarinho, saboreando cada minutinho de entrega. Mas a hiena, impaciente, pulou com suas garras no tronco do baobá, gritando:
- Abra logo esse coração, eu não agüento esperar! Ande! Eu quero todo esse tesouro para mim, eu quero tudo, entendeu?
O baobá, apavorado, fechou imediatamente o seu tronco, deixando a hiena de fora a uivar desesperada, sem conseguir pegar nenhuma jóia. E por mais que ela arranhasse a árvore, ela nada conseguiu.
A partir desse dia é que a hiena ganhou o costume de vasculhar as entranhas dos animais mortos, pensando encontrar ali algum tesouro. Mal sabe ela que esse tesouro só existe enquanto o coração é vivo e bate forte.
Quanto ao baobá, nunca mais ele se abriu. A ferida que ele sofreu é invisível, mas dificilmente curável. O coração dos homens se parece com o do baobá. Por que ele se abre tão medrosamente quando ele se abre? Por que às vezes ele nem se abre? De que hiena será que ele se recorda?
Fonte: SISTO, C. Mãe África. São Paulo: Paulus, 2005
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maravilhoso.
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