POESIA E BILHETE: Um diálogo possível
Autor:Josina Augusta Tavares Teixeira
Co-autor: Andréa Vassallo Fagundes
Estrutura Curricular:
Língua Portuguesa - Alfabetização
Dados da Aula:
O que o aluno poderá aprender com esta aula:
OBJETIVOS
• Criar condições para que o aluno entre em contato com o poema infantil, nas suas diversas modalidades, cultas e populares, proporcionando experiências lúdicas.
• Oportunizar ao aluno dar asas à imaginação, á criação e à sensibilidade.
• Ampliar o seu repertório linguístico-discursivo.
Duração das atividades:
5 aulas de 50 minutos (aproximadamente)
Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno:
Os alunos devem saber ler e escrever e estar inserido no processo de letramento.
Estratégias e recursos da aula:
JUSTIFICATIVA
A Escola, na sua busca constante por métodos e estratégias alfabetizadoras, trouxe os textos para a sala de aula e começou a usá-los como pretextos para o ensino de todos os aspectos de Língua Portuguesa: a sintaxe, a morfologia, o vocabulário, a interpretação, a ortografia, bem como para proporcionar um ponto de partida para produções escritas.
Entretanto, talvez por ainda sofrer o reflexo do preconceito editorial, a poesia ficou relegada, na escola, a um segundo plano e, não raro, a plano nenhum.
Assim, nós, professores, estamos perdendo a oportunidade de oferecermos aos nossos alunos um gênero textual rico de significado e de agradável interação para a maioria dos leitores.
Também, precisamos considerar que a poesia é o gênero textual que abriga, com excelência, toda a riqueza do imaginário humano e permite, mais do que qualquer outro discurso, uma experiência lúdica com o fenômeno linguístico.
Além dos fatores citados, quanto mais variado for o repertório de gêneros textuais oferecidos aos nossos alunos, mais oportunidade terão eles de ativarem as suas estruturas linguísticas, flexibilizando-as, tornando-se leitores/escritores proficientes.
ATIVIDADES
1a etapa
* A professora distribuirá o livro de poemas "Ou isto ou aquilo", de Cecília Meireles, e deixará que os alunos o folheiem à vontade, fazendo suas descobertas.
* Depois pedirá aos alunos que encontrem no livro um poema que se chama "O menino azul".
(Se a professora não dispuser dos livros, poderá xerocar a poesia para os alunos).
http://linguagemeafins.blogspot.com/2011/05/musica-e-afins-aprendiz-de-orquestra.html
Este poema e sobre o livro abaixo fazem parte da aula Aprendiz de Orquestra
O menino azul
Cecília Meireles
O menino quer um burrinho
para passear.
Um burrinho manso,
que não corra nem pule,
mas que saiba conversar.
O menino quer um burrinho
que saiba dizer
o nome dos rios,
das montanhas, das flores
_ de tudo o que aparecer.
O menino quer um burrinho
que saiba inventar
histórias bonitas
com pessoas e bichos
e com barquinhos no mar.
E os dois sairão pelo mundo
que é como um jardim
apenas mais largo
e talvez mais comprido
e que não tenha fim.
Quem souber de um burrinho desses,
pode escrever para a Rua das Casas,
Número das Portas,
ao Menino Azul que não sabe ler.
• Em seguida, começará a orientar a observação dos alunos para a estrutura diferenciada do texto eles irão anotando, com o auxílio da professora, as observações no caderno:
- A não linearidade do texto, percebida pela disposição dos versos.
- A nomenclatura específica dos elementos do poema:
Verso: é o nome dado a cada linha do poema.
Estrofe: é o conjunto dos versos.
- Este poema tem 25 versos e 5 estrofes.
Outras observações deverão ser feitas pelos alunos: a linguagem sintética do poema, a quase sempre ausência de parágrafos e travessões.
As rimas:
As crianças, em geral, adoram brincar com rimas.
A professora, então, pedirá que descubram as rimas e as anotem em seus cadernos:
1ª estrofe: passear rima com conversar
2ª estrofe: dizer rima com aparecer
E assim por diante.
2ª etapa
* Leitura silenciosa do poema.
* Conversa sobre o tema o poema:
- Esta poesia fala de alegria ou de tristeza? Por quê?
- Será que existe um burrinho assim, ou é uma fantasia da poetisa?
- Na 4ª estrofe a poetisa faz uma comparação. A que ela compara o mundo?
* Leitura modelar feita pela professora.
* JOGO POÉTICO
A professora desafiará seus alunos:
Quem será que consegue decorar uma estrofe do poema para apresentarmos à frente da classe?
Vários alunos vão querer se arriscar. Então ela dará um tempo para a memorização.
O 1º grupo se apresentará.
Os alunos que não conseguiram decorar bem sua estrofe será ajudado pela professora.
À medida que os grupos forem se apresentando, os alunos com mais dificuldades para essa atividade terão mais tempo e oportunidade de decorarem a sua parte e, assim, certamente todos se apresentarão.
Ao final das apresentações todos serão aplaudidos e a professora os parabenizará como forma de incentivo.
3ª etapa
Cartinhas para o Menino Azul: os alunos criarão, no rascunho, cartinhas atendendo ao pedido do Menino Azul.
Depois de corrigidas, elas serão passadas a limpo e ilustradas. Então, poderão ser trocadas entre os alunos ou expostas no mural da sala de aula.
AVALIAÇÃO
• A professora observará se seus alunos:
- apreciaram a poesia;
- envolveram-se nos trabalhos com prazer;
- compreenderam as especificidades do gênero;
- escreveram e leram com a competência esperada para o nível em que se encontram.
POESIA E JOGO DRAMÁTICO
A vida só é possível reinventada.
Cecília Meireles
Lendo poemas na escola: a arte de interpretar
Autor:Fabiane de OLiveira Braga Felício
Co-autor:Edna Maria Santana Magalhães
Estrutura Curricular:
Língua Portuguesa :Língua oral e escrita: processos de interlocução
Gêneros discursivos , leitura , produção de texto
Dados da Aula:
O que o aluno poderá aprender com esta aula:
Espera-se com as aulas que aqui serão propostas:
1) Propiciar aos alunos uma aproximação com a linguagem poética fortalecendo o hábito de leitura e despertando-os para o universo mágico dos poemas;
2) Ampliar o repertório linguístico através da leitura e da análise dos poemas;
3) Estimular a oralidade e a criatividade na leitura e composição de textos poéticos.
Duração das atividades:
4 aulas de 50 minutos
Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno:
É interessante que os alunos já tenham familiaridade com parlendas, cantigas de roda, quadrinhas e outros tipos de poemas.
Será importante que os alunos já saibam as características que compõem o gênero poema: rimas, estrofes, versos e saibam os elementos que constituem um convite.
Estratégias e recursos da aula:
1ª aula
1ª atividade
Informe aos alunos que nesta aula eles trabalharão com poemas e aprenderão como deve ser feita a leitura de textos poéticos.
Forme grupos com os alunos para que possam conversar sobre poemas e autores que conhecem e de que se lembrem.
Um relator escolhido por cada grupo deverá, ao fim do tempo definido para a discussão, escrever no quadro as poesias e nome de autores lembrados pelos alunos durante a conversa.
2ª atividade
Reproduza cópias do poema abaixo e distribua para todos os alunos.
Atividades
Atividades
1) Peça uma leitura silenciosa e oriente-os a fazer marcações no texto, identificando as palavras que desconhecem o significado, trechos que não entenderam e outros qeu achou interessantes ou estranhos.
Eles devem ler o texto, pelo menos duas vezes, silenciosamente.
As marcações feitas durante a pimeira leitura se mantêm?
2) Convide-os a falar das marcações feitas no texto.
Isso é importante para você conhecer como se dá o processo de leitura para cada um deles. Esclareça as dúvidas, mas sempre pergunte se algum aluno poderia ajudar no esclarecimento das dúvidas apresentadas.
3) Agora, faça a leitura compartilhada.
Enfatize a importância da entonação ao ler um poema.
Valorizar determinadas palavras, descobrir as pausas adequadas.
4) Converse com os alunos sobre o poema e faça com eles uma reflexão sobre a mensagem contida nos versos.
5) Pergunte se eles gostaram do poema e qual a sensação que ele transmite ao lê-lo.
6) Quais lembranças foram ativadas durante a leitura?
Espera-se que o poema ative as lembranças de sua infância e consiga fazer inferências a partir delas.
Dica: Ressalte aqui a subjetividade presente na poesia, a linguagem utilizada as características presentes (rimas, estrofes, algumas construções que utilizam figuras de linguagem/de pensamento..., o uso da linguagem figurada e da linguagem denotativa) nesse gênero textual: poema.
A seleção dos conteúdos a serem abordados dependerá do nível de aprofundamento que você quer dar a sua aula e do nível de cnhecimento dos seus alunos.
Preparação para a 2ª aula
Faça uma sondagem para descobrir os temas de maior interesse dos alunos e anote para você.
Procure poemas que retratem os temas mais sugeridos pelos alunos, imprima alguns deles, recorte-os e enrole em canudos.
Prepare um saquinho colorido, bem bonitinho, para colocar os poemas.
2ª aula
Mostre os alunos o saquinho com os poemas. Não relate o que tem dentro dele.
Ative a curiosidade dos alunos fazendo perguntas, por exemplo: o que vocês imaginam que existe aqui dentro?
Peça cada aluno para fechar os olhos e pegar o canudinho, mas tudo isso silenciosamente.
Se possível, deixe uma música de fundo enquanto faz a distribuiçã.
Peça que cada um, cuidadosamente, abra e veja o que tem escrito.
Depois, solicite que colem o poema sorteado em uma folha e respondam as perguntas seguintes :
1) Você conhece o (a) autor (a) do poema?
2) Qual a linguagem utilizada por ele (a)?
3) O poema apresenta rimas, versos, estrofes, comparações?
4) Como o poema está organizado no papel?
5) Quais elementos fazem uma notícia de jornal, uma receita, ou um conto de fadas serem diferentes de um poema?
Feito isso, monte grupos de 4 ou 5 alunos e peça que troquem os papéis com as atividades feitas.
E les deverão ler e di scutir acerca das colo cações feitas por ca da um do grupo, suge rir mudanças, fazer questionamentos.
Peça para conversarem tam bém sobre os autores e os temas dos poemas e o sentido proporciona do pela leitura.
Preparação para a 3ª aula
Peça aos alunos que levem para a próxima aula jornais, revistas, cola, tesoura, pincéis e cartolinas.
3ª aula
Leve os alunos à biblioteca e proponha a leitura de poemas.
Peça que selecionem o que eles mais gostaram.
Proponha a representação dos poemas através de desenhos, colagens, dramatização e exponha em forma de mural em sala de aula.
Dica: Os alunos poderão apresentar o poema aos colegas através dos desenhos para que eles tentem interpretar a temática do poema escolhido por cada um.
Preparação para a 4ª aula
Sugira a apresentação de um Sarau na escola para todos os alunos do turno ou para um determinado número de alunos ou ainda, para turmas do mesmo ano escolar.
O que acharem mais viável, uma vez que a concentração do público e o silêncio são fundamentais para o sucesso do evento.
Sugira que façam a leitura em casa de poemas e escolham um para ser declamado.
O poema exercita a reflexão e a memorização.
Explique aos alunos o que é um Sarau:
O que é Sarau?
Sarau é o nome dado a um encontro de artistas, em casas ou lugares públicos, onde esses artistas mostram suas obras, como artes plásticas, artes visuais, musicais, mas, principalmente contos e poesias.
4ª aula
Prepare um local na escola que possa ser decorado para estimular a apresentação dos alunos. Escolha um bom fundo musical para ilustrar a apresentação.
Se quiser, faça convites com os alunos, convide os pais para a apresentação.
Na aula "Linguagem e vida: gentileza na escola" do Portal do Professor,
http://portaldoprofessor.mec.gov.br/verAula (Acesso feito dia 19/10/2009) aborda o gênero convite, caso haja necessidade de aprofundar esse tema.
Tudo dependerá da empolgação dos alunos e da seriedade com que se envolveram no projeto para que ocorra um bom trabalho digno de receber a comunidade escolar.
Recursos Complementares:
Professor, você poderá organizar além do Sarau, um jogral com os alunos;a produção escrita de poemas, a publicação em murais, blogs, livros , com “Dia de autógrafo” ou “Lançamento”.
*Trabalhar o Dia da poesia.
*Levar os alunos à tarde de autógrafos em lançamentos de livros de poesias;
*Propor uma pesquisa na internet em Saraus virtuais: http://blogs.abril.com.br/sarauvirtual (Acesso feito dia 19/10/2009)
* Leitura do livro: KIRINUS, Gloria. Criança e poesia na pedagogia Freinet. São Paulo, SP: Paulinas, 1998.
* Livro de poesias para crianças: http://www.katabum.com.br/antologia-poesia-brasileira-para-criancas.html (Acesso feito dia 19/10/2009)
Avaliação:
Professor procure observar se os alunos conseguem fazer inferências nos poemas a partir de suas vivências familiares.
Retome as características do gênero poema.
A interpretação de poemas é individual, porém coerente, porque, apesar de possibilitar uma multipliciade de leituras, ela possui restrições inerentes ao próprio tema e a à articulação com contexto de sua produção.
Sua leitura possibilita o exercício de uma leitura mais subjetiva e o diálogo com a realidade imediata do leitor, mas respeitadas essas.
Do diálogo entre as artes
O diálogo entre as artes, ou mais especificamente, entre a literatura e outras artes é antigo e se efetua de diferentes modos.
Cinema e literatura são artes que privilegiam muito esse diálogo.
São inúmeros os filmes que nasceram de adaptações de obras literárias ou de sugestões de determinadas obras.
A via contrária também é hoje bastante experimentada.
Poemas, contos e até romances retomam obras cinematográficas.
Outros diálogos também são freqüentes e antigos: por exemplo, o modo como a obra literária traz para sua configuração semântica as artes plásticas e as referências à musica estão amplamente documentadas.
Não podemos esquecer que, numa perspectiva mais didática, muito se adaptou e se adapta para o teatro obras literárias integralmente ou apenas capítulos e episódios.
Na literatura brasileira um diálogo curioso bastante produtivo é o da literatura popular com a dita literatura erudita que será abordada nesta mesa.
Veja-se o caso de Guimarães Rosa, possivelmente o mais rico e significativo de nossa literatura. Ou, no nordeste, a aproximação de obras teatrais de Ariano Suassuna com a literatura de cordel e outras manifestações da cultura popular.
Outras possibilidades ainda poderiam ser levantadas: por exemplo, literatura e telenovela.
Aqui também a via é de mão dupla.
Cada um desses diálogos é matéria de inúmeros estudos acadêmicos.
No entanto, pouco desta reflexão tem chegado à escola de um modo estimulante para a leitura literária.
Todo este preâmbulo para chegarmos ao nosso objetivo que é propor um diálogo, com fins pedagógicos, entre poesia e jogo dramático.
Mais especificamente, partir de poemas para criação de jogos dramáticos.
Nossa abordagem tem duas grandes fontes: a experiência com poemas em sala de aula, inclusive a criação de jogos dramáticos a partir de poemas e a reflexão sobre a poesia de Cecília Meireles voltada para crianças – de todas as idades, diga-se.
Jogos dramáticos a partir de poemas
Jogos dramáticos a partir de poemas
Em Ou isto ou aquilo, dentre tantos outros procedimentos, a poetisa lança mão da brincadeira infantil como matéria de sua poesia.
Poemas como “Jogo de bola”, “A bailarina”, “O colar de Carolina”, “A chácara do Chico Bolacha”, “O menino Azul”, “Leilão de Jardim”, “Ou isto ou aquilo” e tantos outros, embora nem sempre tragam diálogo explícito, nos apresentam crianças em ação – vendo, ouvindo, realizando uma atividade lúdica (correndo, dançando, jogando, etc).
Esses poemas devem ter nascido da observação do brincar das crianças, do modo como elas se transformam em personagens, como atuam concreta ou imaginariamente sobre a realidade.
A idéia que me surgiu, lecionando para crianças, foi a de, após repetidas leituras de determinados poemas, como que reconstruí-los pela fantasia.
O ponto de partida seria sempre uma imagem, uma situação, um ritmo, uma sugestão do poema. Mas não se trata de produção de texto, o que requer um tempo e um domínio da linguagem que nem sempre a criança tem.
O que ela tem, e muito, é capacidade de fantasiar, de entregar-se ao devaneio que o poema propõe ou até ir mais longe do que ele.. .
Na poesia brasileira, um dos primeiros poemas que retomam este devaneio infantil é “O mundo do menino impossível”, de Jorge de Lima. Ainda em 1927, Jorge de Lima cria um poema em que a certa altura, o menino abandona todos os brinquedos caros, importados e passa a transfigurar a realidade: “E os sabugos de milho/ mugem como bois de verdade.../ E os tacos que deveriam ser/ soldadinhos de chumbo são/ cangaceiros de chapéu de couro.” Jorge de Lima, com sensibilidade cria um poema a partir da experiência infantil – num tempo em que, diga-se de passagem, toda a poesia para crianças estava impregnada de ensinamentos morais.
Outra questão precisa ser lembrada: o poeta não tinha intenção de criar um poema para crianças. Esta atitude do menino de recriação de um mundo é que vamos chamar de jogo dramático e sobre esta questão, nos deteremos um pouco mais.
O jogo dramático pode ser definido como a capacidade natural da criança de lidar com a realidade permeando-a com sua fantasia.
O brincar de bonecas, o jogar o peão, o voar para segurar uma bola, o transformar-se num guerreiro, entre outras ações, trazem um complexo processo de animização, de transfiguração da realidade.
Esta atividade natural da criança, segundo Peter Slade(1978) , poderia ser melhor utilizada pela escola.
Noutras palavras, a escola poderia estimular mais o jogo dramático, e não podá-lo como costuma acontecer.
No jogo, o trabalho com a linguagem aparece sob o signo da invenção.
Todas as sugestões que serão feitas a seguir podem ser feitas com crianças na faixa etária entre sete dez anos, fase com que realizamos algumas experiências.
Algumas sugestões
Comecemos com o poema “Leilão de jardim”, de Cecília Meireles.
Após a sua leitura numa roda de crianças, poderíamos perguntar a elas o que mais poderia ser encontrado num jardim e que não apareceu naquele leilão.
À medida que as crianças fossem enumerando nomes de pássaros, insetos, plantas, o professor iria anotando no quadro.
Depois, poderia propor que fizessem uma representação desse novo jardim – que congrega os objetos apontados por Cecília e os demais objetos e animais lembrados pelas crianças.
A sala de aula se transformaria num jardim, com roseiras, pássaros, formigas, jardineiro, etc. Todas essas personagens poderiam discutir sobre sua condição de vida, sobre os preços que lhe foram oferecidos, sobre o medo de mudar de jardim, de ser adquirido por um dono relapso, sobre o clima seco, ou úmido, ou frio (veja-se, a depender da região, muitas idéias diferentes poderão surgir).
Realizamos vários jogos dramáticos com este poema de Cecília Meireles, em diferentes turmas e sempre tivemos um envolvimento surpreendente.
Outro poema que sempre encanta as crianças é “A bailarina”.
Após a leitura e releitura do poema seria interessante conversar com as crianças sobre os tipos de dança que elas conhecem – frevo, forró, dança do boi, xaxado, fandango, vaneirão, etc.
Neste caso, poderíamos sugerir várias crianças brincando de dançar e imaginando diferentes personagens para sua dança.
Aqui, por exemplo, poder-se-ia trazer para sala de aula diferentes ritmos para que se brincasse de dançar.
Não só as meninas. Os meninos também gostam de dançar.
Inúmeros outros poemas retomam o motivo da dança.
Nem todos têm o mesmo nível estético do de Cecília.
No entanto, poderia o professor trazer para leitura alguns destes poemas que, por sua vez, poderiam sugerir novas formas de jogo dramático.
Nesta atividade o professor poderia também estabelecer um diálogo com a canção “Ciranda da bailarina”, de Chico Buarque de Holanda e Edu Lobo.
Ainda no âmbito da brincadeira, “O colar de Carolina” também pode detonar alguns jogos dramáticos articulados com atividades de confecção de material para a brincadeira.
Por exemplo, como seria esse colar de Carolina?
Que outros colares poderiam ser confeccionados?
De que material?
Que falas poderiam ser atribuídas ao Sol, que, no poema parece encantado com a cor do colar? Ele não poderia estar também encantado com a menina em si, que brinca solitária e livremente?
E as colunas da colina, que no poema servem de cenário, poderiam também ter sua fala, expressar seu encantamento ou não para com a menina que brinca.
As crianças seriam estimulas a criarem falas e a representar a situação recriada.
“O menino azul” é um poema que também pode oferecer elementos para criar jogo dramático. Após a leitura, releitura e discussão do poema, poder-se-ia imaginar diálogos entre outros burrinhos que levam crianças para diferentes lugares.
O que eles falam destas crianças?
Há crianças malvadas, há crianças respeitosas?
Qual a idade destes burrinhos?
Como está a situação alimentar deles, sobretudo dos que vivem na cidade?
Eles podem sair livres para pastar?
Outros burrinhos poderiam entrar na roda: por exemplo, os burrinhos que carregam carroça, os burrinhos que carregam água, que puxam arado.
A criança vai se colocar no lugar destes animais e inventar e reinventar determinados diálogos. Esta atitude além do caráter lúdico da invenção, temos o atentar para a situação social do outro – gente, bicho, pássaro, etc que tem um valor educativo da maior importância.
Que tal chegar na conversa o cavalo do poema “O cavalinho branco”?
Que poderiam conversar?
O que os diferenciam?
Vale citar aqui uma curiosa experiência realizada por uma professora com este poema numa turma de crianças muito pobres, numa escola pública de um bairro de Campina Grande.
A discussão que predominou foi totalmente voltada para o preço do jumento.
As crianças daquela escola, mesmo vivendo em cidade, tinham acesso a jumentos que carregam carroça pela cidade.
Alguns tinham familiares carroceiros e sabiam o valor dos animais.
A professora, inicialmente assustada com o rumo da prosa levada pelos alunos, depois compreendeu que a poesia havia tocado aquelas crianças e que o voltar-se para a viagem que o poema propõe foi assimilado a partir da realidade concreta vivida por eles.
A recepção de um poema ou de uma obra de arte em geral, está sempre ligada à realidade do leitor. Estar atento a esta questão pode definir uma recepção mais adequada ou não.
Lembrar que muitas obras literárias têm animais e objetos como personagens.
Por exemplo, os diálogos entre os animais em Os Saltimbancos, de Chico Buarque, os diálogos entre a bicharada de Os colegas, de Lygia Bojunga Nunes e tantas outras obras.
Ou seja, o que estamos propondo é uma reinvenção do poema, para mostrar que a poesia está em nós, embora a sua expressão escrita seja muito mais complexa.
Mas todos podem vivenciar a experiência estética de invenção, de devaneio poético.
E uma das funções da escola é estimular ao máximo esta dimensão da vida da criança.
Partir do poema e criar situações novas, imaginariamente, e, a seguir, dar uma ordem a essas invenções/descobertas e representá-las.
Ou melhor, à medida que for improvisando, retomar uma fala, um gesto, uma idéia e ampliá-la, articulá-la com outra.
Mas não esquecer que se trata de uma brincadeira e o ir e vir, o repetir, o recriar e recriar-se deve se dar de modo alegre, sem cobranças exaustivas, sem exigências de perfeição, sem a necessidade de público, como se fora teatro.
Embora, alguns jogos possam se transformar em pequenas encenações e serem apresentadas na escola, este não é o objetivo do jogo dramático, pelo menos como o entendemos.
E mesmo que depois de as crianças criarem falas, imaginarem novos cenários, novas situações, sem chegar necessariamente a uma encenação, o jogo com a linguagem, a capacidade de inventar já aconteceu.
Uma outra questão: é sempre bom conversar sobre o poema em si, antes de iniciar os processo de “reinvenção” de suas imagens.
Por exemplo, com um poema como “A chácara do Chico Bolacha”, muitas professoras conversam com os alunos sobre as condições sociais da “personagem” – sua pobreza, sua condição de trabalhador rural muito pobre, o lugar em que mora (que alaga quando chove).
Também se pode brincar, na leitura oral, com a sonoridade do poema: a constante repetição do fonema /x/ pode sugerir a chuva ou a cheia ou mesmo o barulho da enxada capinando a terra. Como se observa, a porta de entrada para convivência com o poema pode e deve ser os recursos expressivos que ele apresenta.
Um jogo dramático possível de ser trabalhado a partir deste poema seria as crianças trabalhando a terra - sentindo o suor escorrer do rosto ou tentando se livrar de uma enchente.
O que conversariam duas crianças capinando ao sol quente?
Ou tentando salvar as poucas coisas de uma casa pobre?
E mais: o Chico vive só?
Tem filhos, esposa? Se tem, envolvê-los todos no jogo dramático.
Uma pombinha no livro didático
Depois de ver o poema que segue abaixo, tristemente assassinado num livro didático, fiquei imaginando um modo que me parecesse mais sensível de abordá-lo.
Vamos fazer um exercício de fantasia, vamos pensar como poderíamos ler este poema com crianças – na escola, em casa, numa creche, em qualquer lugar. Passemos à leitura oral:
A pombinha da mata
Cecília Meireles
Três meninos na mata ouviram
Uma pombinha gemer.
“Eu acho que ela está com fome”,
disse o primeiro,
“e não tem nada para comer”.
Três meninos na mata ouviram
Uma pombinha carpir.
“Eu acho que ela ficou presa”,
disse o segundo,
“e não sabe como fugir.”
Três meninos na mata ouviram
Uma pombinha gemer.
“Eu acho que ela está com saudade”,
disse o terceiro,
“e com certeza vai morrer”.
Em seu trabalho pioneiro sobre poesia na escola, ainda na década de 70, Maria Antonieta Antunes Cunha nos lembrava que um critério imprescindível na hora de escolher um poema para levar às crianças é gostarmos dele.
Este poema de Cecília Meireles sempre me encantou.
Talvez pelas hipóteses levantadas pelas crianças (ela está com fome? Ela está presa? Ela está com saudade?), talvez pela minha experiência de criança que viveu na roça até os 13 anos.
Neste poema, como n“As meninas”, há um menino que se destaca quando afirma: “ eu acho que ela está com saudade (...)/ e com certeza vai morrer”.
A saudade é o que vai matar a pombinha.
Não será a fome nem a prisão.
Eu não entendia muito bem esta hipótese quando li o poema pela primeira vez, mas gostava.
E continuo gostando.
Agora imagino uma sala de aula...
O que poderíamos fazer com meninos e meninas lendo este poema?
O poema convida à leitura dialogada.
Um leitor-narrador e mais os três meninos.
Realizar a primeira leitura, a segunda, a terceira, repetindo sempre um verso, uma palavra, procurando a emoção adequada.
Variar ao máximo os leitores; isto é, mais de um grupo deverá realizar a leitura e procurar dizê-la a seu modo.
Depois de repetidas leituras é hora de brincar um pouco, inspirado no poema.
O cenário que nos é sugerido é uma mata.
O que temos numa mata?
Esta é uma boa pergunta para iniciar uma conversa.
Anotar no quadro as observações dos alunos.
Estimular para que citem outros pássaros, animais, tipos de plantas, etc.
Feito este levantamento, é hora de partir para o jogo dramático, isto é, partir para improvisação. Por exemplo, imitarmos os diferentes cantos de pássaros presentes em nossas matas.
Depois, criar uma espécie de alvorada: todos os pássaros cantando ao mesmo tempo.
Uns, mais alto, outros, mais baixo.
Se ficarmos por aqui, teremos já feito um bom trabalho.
Não precisa dizer para os alunos, mas certamente a partir do poema se sintam estimulados pela imaginação, pela observação mais detida da realidade e desenvolvam uma percepção mais sensível do mundo .
Mas podemos continuar, ainda, a partir do que o poema nos oferece.
Por exemplo: imaginar o canto da pombinha.
Como seria um canto de quem está presa, chorando, com saudade?
O que causou a dor da pombinha?
O que os meninos que estão na mata poderão fazer pela pombinha?
Onde, mais especificamente, ela está?
Num galho? No chão?
Outros pássaros perceberam a situação da pombinha?
Mais uma vez, anotar as hipóteses que a turma levantar.
A partir das hipóteses, novamente realizar um jogo dramático, isto é, dramatizar a situação de modo livre, improvisado, repetindo sempre que for necessário.
Conclusão
Os teóricos do jogo dramático sempre chamam a atenção para o valor educativo desta atividade. Destacam, por exemplo, a ausência de estrelismo, uma vez que não há atores representado para um público.
Na situação de jogo, todos se envolvem, todos são personagens, mesmo que a representação seja a mais simples possível.
O que importa, portanto, é o envolvimento do grupo e o nível de invenção que podem alcançar.
A repetição de uma cena, sempre acrescentando novos elementos – falas, gestos, adereços – deve ser feita diversas vezes, tendo o orientador a percepção de que aquilo é uma brincadeira, uma experiência lúdica.
No momento em que o jogo começa a ficar cansativo, desinteressante, talvez seja hora de parar, sentar, voltar ao poema, conversar sobre o que foi realizado.
Outro aspecto educativo importante é o fato de as crianças poderem experimentar algo que nem sempre conhecem.
Por exemplo, uma criança de cidade não tem experiência de trabalhar a terra.
O jogo com o poema “A chácara de Chico Bolacha” vai possibilitar-lhe imaginar a experiência do outro, e, possivelmente, ter uma compreensão mais adequada de sua situação – sobretudo menos preconceituosa, a depender do rumo da discussão.
Importa ainda lembrar que as sugestões aqui apresentadas demandam um tempo diferenciado.
Ou seja, cada poema, cada situação é que vai definir o tempo de leitura e de criação do jogo dramático.
Uma turma, por exemplo, pode retomar noutra aula, uma experiência iniciada na semana anterior.
Lembremos também que o que estamos propondo não deve se transformar na única forma de trabalhar o poema.
Trata-se de uma possibilidade dentre inúmeras outras.
E que mesmo uma sugestão possível de suscitar uma boa experiência, pode redundar num desestímulo se não for desenvolvida com planejamento adequado, atento às peculiaridades da turma com que se vai trabalhar.
Ao oferecermos estas poucas sugestões nosso objetivo é instigar professores e professoras a trabalhar o poema de um modo mais sensível, voltado para vivência corporal da poesia.
Isto é, experimentar a poesia e não querer interpretá-la com as crianças ao modo como fazem a maioria dos livros didáticos.
Ou seja, fugir de um racionalismo que tem matado a poesia.
Agora é sua vez de exercitar, com seus alunos e alunas, sua fantasia poética.
Fonte:
http://alb.com.br/arquivomorto/edicoes_anteriores/anais15/alfabetica/AlvesJoseHelderPinheiro.htm
Orquestra Tim Tim por Tim Tim
Editora Moderna
De Elisa da Silva e Cunha, Liane Hentschke, Luciana Del Ben, Susana Ester Kruger
A sensibilidade musical também deve fazer parte da bagagem educacional das crianças.
A sensibilidade musical também deve fazer parte da bagagem educacional das crianças.
Eis aqui um verdadeiro guia pelo mundo da música de orquestra.
Apresenta os instrumentos das famílias das cordas, madeiras, metais e percussão,
o papel do maestro e dos instrumentistas.
De maneira simples e divertida, as crianças terão ótima oportunidade
de conhecer o som dos instrumentos e descobrir que as orquestras
podem tocar diferentes tipos de música, da erudita à folclórica, à popular e outras mais.
O CD que acompanha o livro auxilia a viagem pelas famílias dos instrumentos.
No final, a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (OSPA)
nos presenteia com uma peça de Beethoven.
Pensando nisso, a coordenadora da Educação Infantil e de 1ª a 4ª série do Ensino Fundamental do Colégio Marista Conceição, Maria Candida Barboza, realizou, na sexta-feira (30/6), um recital baseado no livro A Orquestra Tim Tim por Tim Tim.
Através da projeção das imagens em um telão, Maria Candida explicava aos pequenos de 1ª a 4ª série as páginas da obra.
Entre as explicações sobre a distribuição de uma orquestra e suas famílias (das cordas, das madeiras, dos metais e da percussão), alguns músicos convidados tocavam seus instrumentos: alunos maristas nos violinos, o professor de música da escola na guitarra, Tiago de Moura, o professor do Projeto Guri na flauta transversa, Marcelo Everson Lima, e o músico José Carlos Barboza nos instrumentos de percussão.
O recital foi encerrado embalado pelas músicas do Sítio do Pica-pau Amarelo e Cai Cai Balão, ambas tocadas pelo trio de músicos convidados.
A obra A Orquestra Tim Tim por Tim Tim tem, entre outros autores, a participação da autora presente na Jornadinha de Literatura deste ano, Elisa da Silva e Cunha.
Ela é doutoranda em Educação Musical na UFRGS, professora do Centro Universitário Feevale (novo Hamburgo) e coordenadora da Série Concertos Legais de POEMA (Projeto Ospa de Educação Musical Aplicada).
A música está presente nos diferentes momentos da vida das pessoas, além de despertar emoções e sentimento de todos os tipos.
Com as crianças que estavam no recital, não foi diferente.
Os aplausos e os gritos de “bravo!” (também aprendido no dia) demonstraram a comoção que as notas musicais causaram nos alunos.
O projeto visou aproximar as crianças da orquestra sinfônica e, por extensão, de todas as formas de música de qualidade.
Além de contribuir na formação de futuros músicos e ouvintes musicalmente educados.
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Oieeeeeeeeee!!!! Saudades... vim retribuir a visitinha calorosa e deixar meu carinho...
ResponderExcluirBjsssss
Lê