Trenzinho do caipira: um relato sensível de experiência vivida
Autor :Joseli Rezende Thomaz
Co-autor:Maria Cristina Tavela Weitzel
Estrutura Curricular:
Língua Portuguesa :Língua oral e escrita: prática de escuta e de leitura de textos
Dados da Aula:
O que o aluno poderá aprender com esta aula:
O objetivo desta aula é promover a emoção estética por meio da leitura de um relato de experiência do poeta e escritor Ferreira Gullar, associada à escuta de “O Trenzinho caipira” de Heitor Villa-Lobos.
Os alunos ouvirão a música orquestrada e, em seguida, cantada por Edu Lobo, que produziu um arranjo da música de Villa-Lobos com letra de Ferreira Gullar.
Duração das atividades:
4 horas/aula
Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno:
Aulas elaboradas para alunos do 8° ano do ensino fundamental, que “curtam” ouvir e conhecer a história da música brasileira em geral, popular ou erudita.
E que já possuam conhecimento sobre narrativas e relatos.
Estratégias e recursos da aula
Aulas 1 e 2
Professor: inicialmente faça uma sondagem na turma, verificando se os alunos já ouviram música erudita.
Dificilmente alguém terá esse hábito, já que é pouco difundido entre os brasileiros.
Se você tiver alguma experiência nesse sentido, conte-a para a turma.
Em seguida, pergunte se conhecem o poeta Ferreira Gullar.
Tenha algumas informações preparadas sobre ele, para você enriquecer sua aula.
Na sequência, pergunte se já descobriram qual será o tema da aula.
Motive-os, fazendo a seguinte pergunta: vocês acham que Ferreira Gullar tinha o hábito de ouvir música clássica?
Passe à leitura do texto, informando, antes, que Ferreira Gullar vai nos contar como foi a sua experiência com a música erudita.
(Nesse momento seria bastante interessante se você já começasse a imprimir um tom mais intimista à aula, pelo volume, ritmo, entonação da sua voz).
Coloque a música só orquestrada, que você encontra no site
Agora, leia, você, o texto abaixo, de Ferreira Gullar, como se fosse o próprio autor, relatando com muita sensibilidade a sua história.
Esse relato de experiência vivida, foi publicado no Jornal Folha de São Paulo, em 6 de dezembro de 2009.
Trenzinho do caipira
Durante os anos que vivi em São Luís, não me lembro de ter ouvido alguma música de Villa-Lobos.
Dos 18 aos 20 anos, fui locutor da Rádio Timbira que, senão (sic) me equivoco, raramente transmitia programas de música erudita.
Lembro-me de programas de música popular brasileira, de música latino-americana (especialmente boleros) e de música norte-americana, que nos chegava sobretudo através dos musicais da Broadway.
Foi Thereza, minha falecida companheira, quem me revelou a música de Villa-Lobos, depois que nos casamos e passei a ouvir os discos que vieram com ela para nossa casa.
Ela era apaixonada pela música dele, que cantava no coro da escola pública onde estudara.
Carioca da Tijuca, pertenceu à geração que aprendera a cantar "O Canto do Pagé", em grandes comemorações oficiais no Campo do Vasco da Gama.
"Ó manhã de sol, Anhangá fugiu."
Sei é que, certa tarde, sozinho no apartamento (na antiga rua Montenegro, hoje Vinícius de Moraes, em Ipanema), pus na vitrola um disco com as "Bachianas" e ouvi, pela primeira vez, a do trenzinho do caipira.
Entrei em transe.
É que, quando menino, meu pai, que fazia comércio ambulante, me levava nas viagens de trem entre São Luís e Teresina.
O trem saía de madrugada e, ao amanhecer, cortava o Campo dos Perizes, um vasto pantanal, povoado de garças, marrecos, nhambus, pá ssaros de todo taman ho e cor.
Eu ficava deslumbrado, a cada viagem.
Deslumbramento esse que voltou quando ouvi a "Tocata" da "Bachiana nº 2". Tive o ímpeto, naquele instante, de pôr letra na música, mas não consegui.
E não tentei uma vez só, não, mas várias, ao longo dos anos, sem resultado.
Pois bem, em 1975, ao escrever o "Poema Sujo", em Buenos Aires, evoco aquelas viagens que fazia com meu pai e, então, enquanto, antes, era a música de Villa-Lobos que me fazia lembrar das viagens, agora elas é que me fizeram lembrar da "Bachiana n º 2" e, assim, a letra que não conseguira escrever em 20 anos, escrevi em 20 minutos:
""Lá vai o trem com o menino
lá vai a vida a rodar
lá vai ciranda e destino
cidade e noite a girar..."
Não escrevi essa letra pensando que ela um dia seria gravada; escrevia-a porque aquela reversão da lembrança foi um fator a mais de emoção, um choque mágico, que se incorporava ao poema.
Por isso, pus ali uma indicação meio irônica: "Para ser cantada com a "Bachiana nº 2", "Tocata'".
Mas surgiu alguém que levou a sério a indicação.
O poema foi publicado em 1976, pela editora Civilização Brasileira, de Ênio Silveira, e lançado numa noite de autógrafo sem o autor.
Um ano depois, volto para o Brasil e sou procurado por Edu Lobo, que queria gravar o "Trenzinho do Caipira", com minha letra. Encontramo-nos na Leiteria Mineira, que era ali na rua São José, no centro do Rio, perto da sucursal do "Estadão", onde eu trabalhava.
Ele fez o arranjo e gravou o "Trenzinho", que passou a tocar muito no rádio e, verdade seja dita, contribuiu para popularizar a "Bachiana nº 2", talvez a que mais se ouve atualmente.
É que a letra facilita a comunicação com as pessoas pouco habituadas a ouvir música instrumental.
O mérito não é meu, claro, mas dessa obra-prima que ele compôs, acrescida, então, da interpretação de Edu.
Mas, na hora de obter a autorização para gravar a música com minha letra, Edu se deparou com um problema: a viúva do maestro alegou que adotara como norma não dividir o direito autoral com quem pusesse letra em música de Villa-Lobos.
O que me pareceu razoável, já que muita gente poderia valer-se da fama do compositor para pôr qualquer letra em suas músicas e ganhar dinheiro com isso.
Não foi o meu caso, como narrei aqui.
De qualquer modo, isso não impediu que Edu gravasse a música.
Aliás, para que eu não ficasse sem nada ganhar, ele generosamente me fez parceiro de uma das músicas, que era de sua exclusiva autoria.
Aquela restrição valeu para o disco apenas, porque toda vez que o"Trenzinho" toca no rádio ou é cantado num show, recebo direito autoral.
E, por ironia do destino, já aconteceu me pagarem quando tocaram a "Bachiana", sem a letra. Como se vê, a confusão é geral.
Por falar em confusão, aproveito a oportunidade para desfazer um equívoco, que se tornou frequente, com respeito a essa letra.
Em vez de "correndo pelas serras do luar", como escrevi, põem "correndo pelas serras ao luar".
É o lugar-comum desbancando a poesia.
Num site do Villa-Lobos, insistem no erro. Isso lembra um poema meu em que escrevi: "cantando, o galo é sem morte".
Um tradutor pôs: "cantando el gallo és imortal".
Pensei: é que deve ter entrado para a Academia.
Professor: elabore algumas questões para aferir a compreensão dos alunos.
Sugestões:
1) Afinal, Ferreira Gullar tinha o hábito de ouvir música erudita? Que tipo de música ele ouvia?
2) Vocês perceberam que ele diz ter ouvido as “Bachianas” “na vitrola”. A julgar pelo uso da expressão vitrola, podemos concluir que a história aconteceu há muito tempo. Assim:
- quem influenciou Ferreira Gullar?
- quando e onde essa pessoa ouvia esse tipo de música?
3) Ferreira Gullar relata que quando ouviu as “Bachianas” (a do trenzinho caipira) entrou em transe. Por quê?
(Resposta: ouvindo a música ele se lembrou das viagens que fazia com seu pai, quando era menino, de trem, no Maranhão. Ne ssas viagens, ele fi cava deslumbrado com os campos, os pantanais, as aves coloridas, etc. Ouvindo a música ele sentia o mesmo deslumbramento.)
4) Qual foi o desejo de Ferreira Gullar naquele momento? Ele o realizou?
5) Quanto tempo se passou até ele finalmente conseguir escrever um poema para a música de Villa-Lobos?
6) Segundo o poeta, no momento em que escrevia a letra ele sentira uma reversão da lembrança, que se tornou um fator a mais de emoção. A que reversão ele se refere?
(Resposta: antes, a música o fez se lembrar das viagens com o pai; passado o tempo, são as viagens que trazem a lembrança da música).
7) Ao fazer a letra, Ferreira Gullar pensou em ganhar dinheiro?
8) Qual é a relação de Edu Lobo com o poema de Gullar e a música de Villa-Lobos?
9) Vocês conhecem Edu Lobo?
(Professor: tenha também em mãos algumas informações sobre Edu Lobo)
10) Por que Edu Lobo deu uma parceria de suas músicas a Ferreira Gullar, mesmo ele não tendo participado da tal composição musical?
11) Qual foi a restrição feita pela viúva de Villa-Lobos na hora de gravar a música com letra de Ferreira Gullar?
12) Em que circunstâncias Ferreira Gullar ganha direitos autorais com a música? A restrição feita pela viúva de Villa-Lobos vale pra qualquer situação?
Terminado esse diálogo, passe o vídeo de Edu Lobo cantando a música Trenzinho do caipira.
Os alunos terão a oportunidade também de ver imagens de Villa-Lobos e Ferreira Gullar.
Atenção: há uma introdução apenas com imagens de Villa-Lobos, Ferreira Gullar e informações sobre ambos, antes de a música ser cantada por Edu Lobo.
Divulgue também a letra.
Trenzinho do caipira
Lá vai o trem com o menino
Lá vai a vida a rodar
Lá vai ciranda e destino
Cidade e noite a girar
Lá vai o trem sem destino
Pro dia novo encontrar
Correndo vai pela terra...
Vai pela serra...
Vai pelo mar...
Cantando pela serra o luar
Correndo entre as estrelas a voar
No ar, no ar...
Aulas 3 e 4:
Professor: passe as atividades abaixo, para serem feitas por escrito, com correção em aula.
1) Terminada a apresentação do vídeo, compare a letra com a observação que Ferreira Gullar fez no final do seu relato.
2) Você acha que o poema de Ferreira Gullar é fiel às lembranças de sua infância?
3) Na sua opinião, a escola deveria promover uma educação musical? Por quê?
4) Pesquise no laboratório de informática alguns dados sobre a vida de Heitor Villa-Lobos, de Ferreira Gullar e de Edu Lobo, seguindo o roteiro:
a) quando nasceram, onde.
b) quem são ou foram os pais, o que eles faziam, onde estudaram;
c) qual a sua trajetória de vida: se estudaram, se moraram no exterior, se casaram, etc;
d) como ou por que se tornaram artistas e qual é a especialidade de cada um;
e) quais são algumas de suas obras.
5) Como você definiria um relato de experiência?
Professor: Durante a correção da última questão, verifique a percepção dos alunos quanto às características desse gênero. Acrescente, se necessário, algumas informações.
Avaliação:
Produza um relato de alguma experiência que você tenha vivido.
Quem foi Villa-Lobos?
Villa Lobos nasceu no Rio de Janeiro no dia 5 de maio do ano de 1887.
Era maestro e compositor, recebeu uma boa orientação musical quando era criança.
No ano de 1915 Villa Lobos começou sua vida profissional como instrumentista, contava já com 19 anos quando fez suas primeiras composiçoes.
Em 1922 participou da semana de arte realizada em São Paulo; no ano de 1923 Villa Lobos viajou para a Europa e só voltou ao Brasil no ano de 1929.
Muitas orquestras foram dirigidas por ele.
Escrevendo várias composições, organizou coral de 12.000 vozes em São Paulo no ano de 1931 - o acontecimento foi de grande importância na América do Sul; fez várias viagens pelo mundo dirigindo com entusiasmo suas composições como compositor, fundou o folclore no Brasil, recebeu grande incentivo de Bach Debussh e Stravinski; Villa Lobos viajou várias vezes pelo Brasil fazendo suas pesquisas e anotando no seu diário as muitas modalidades musicais do folclore brasileiro, para depois analisar e formar suas composições.
São muitas as peças que compôs: as que mais se destacaram foram os choros em número de 16; esses choros foram compostos no período de 1920 a 1929, são mais de 1.000 composições conhecidas, além das que desapareceram.
Durante sua vida recebeu 24 títulos do Instituto da França, Membro da Academia de Belas Artes em Nova lorque e Comendador da Ordem de Mérito do Brasil.
Seu falecimento se deu no dia 17 de novembro do ano de 1959, seu nome completo é: Heitor Villa Lobos.
Fonte: http://www.netsaber.com.br/biografias/ver_biografia_c_1465.html
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