Consciência negra
Entenda por que temos um dia todo especial para refletirmos sobre diferenças
Revista Atrevidinha nº 67
Editora Escala
Por Clarice Cardoso
O Brasil ainda era bem jovem (30 aninhos!) quando os portugueses começaram a trazer da África os primeiros negros para trabalhar aqui como escravos. Durante mais de 350 anos, esses milhões de pessoas eram tratados como objetos, coisas baratas que podiam ser compradas ou trocadas por outras mercadorias e que, acima de tudo, davam bastante lucro com seu trabalho, pois não recebiam por ele.
Imagina quão triste deve ser alguém tirar você do seu país e da sua família, levá-la para um lugar bem longe e obrigá-la a trabalhar pesado por algo que você não será paga, e se por acaso pensasse em recusar o trabalho ou tentar se rebelar você sofreria muitos castigos e maus-tratos... Tudo isso só por ter uma cor diferente. Dá para perceber que faltava às pessoas daquela época entender que os escravos não eram coisas, mas seres humanos.
O jeito era tentar fugir e os que conseguiam se refugiavam nos quilombos ("povoado", na língua banto). O maior deles foi o Quilombo de Palmares, criado em 1590 e que ficava na divisa entre Pernambuco e Alagoas. Houve uma época que moraram por lá entre 20 mil e 30 mil pessoas.
O último rei
Você já deve ter ouvido falar de Zumbi, o último líder de Palmares. Mas sabia que ele nasceu livre, em 1655, e foi capturado quando era praticamente um bebê? Durante a infância toda ele foi escravo, e aos 15 anos conseguiu fugir e voltar para o quilombo. Mas não foi só por essa bravura que ele foi conhecido: toda a sua coragem se mostrou mesmo nos vários anos em que ele lutou bravamente contra a escravidão e contra as tropas coloniais.
Isso porque o governo lançou 17 expedições para tentar destruir Palmares, mas só conseguiu em 1694. Só que Zumbi sobreviveu e conseguiu fugir e se esconder. Todo mundo achou que ele tinha morrido, mas um ano depois ele reapareceu.
Isso porque o governo lançou 17 expedições para tentar destruir Palmares, mas só conseguiu em 1694. Só que Zumbi sobreviveu e conseguiu fugir e se esconder. Todo mundo achou que ele tinha morrido, mas um ano depois ele reapareceu.
No entanto, as últimas lutas desse bravo guerreiro não duraram muito: foi traído por um de seus comandantes, que revelou onde era seu esconderijo, e morreu aos 40 anos em 20 de novembro de 1695. Então, em 1978, o movimento negro escolheu essa data para representar o Dia Nacional da Consciência Negra. E em 2003 foi criada uma lei que incluiu essa data no calendário escolar e fez ser obrigatório que a gente aprenda na sala de aula sobre a história e a cultura afro-brasileiras.
A mensagem é de tolerância
Mesmo com a morte de Zumbi, Palmares só foi totalmente destruído em 1716. Já a escravidão só acabou oficialmente no Brasil em 1888.
Mas não vá pensando que esse papo todo é coisa para ficar só na aula de História, não. Até porque é só olhar para as religiões, as comidas, as músicas e todas as coisas da cultura brasileira com que eles contribuíram para pensar: é tanta gente, de tantos jeitos diferentes, que falar em preconceito e intolerância não tem nada a ver, né?
Ou seja, antes de jogar o biquíni na mala porque vem por aí um feriado, essa é uma data para refletir não só sobre a situação dos negros hoje no Brasil, mas também sobre assuntos como tolerância e preconceito. "Mas não adianta nada pregar tolerância se eu não tenho essa postura com meus colegas.
Na escola, por exemplo sempre há a possibilidade de lidar com o preconceito contra o amigo negro, o que tem uma religião diferente, o que usa óculos, o que se comporta de um jeito diferente do meu...", explica a psicóloga Mariana Taliba Chalfon, autora do livro Entre a Cruz e a Estrela, sobre um menino que aprende a conviver com duas religiões diferentes.
Ou seja, você pode até achar que não, mas será que não anda sendo um pouco intolerante com aquela amiga que usa aparelho nos dentes ou que vira e mexe erra o passe no jogo de handebol? "A tolerância é algo ideal que todos buscamos, mas parte desse aprendizado é tomar consciência das intolerâncias que nós temos para poder melhorar", diz Mariana. "Se cada um conseguir exercitar um pouco de tolerância, a gente pode ter uma coletividade melhor num futuro próximo."
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Eu adoro o seu blog, sempre trazendo para nós a proposta de um debate. Educadora de verdade.
ResponderExcluirParabéns