A Mala – Nosso Idioma
Não tenho um caminho novo.
O que eu tenho de novo é um jeito de caminhar.
(Thiago de Melo)
(Thiago de Melo)
Ivian Destro
Autora, educadora, pesquisadora
Secretária da AOTP
Um dia, uma professora inexperiente, porém inquieta por atiçar a fagulha do prazer de ler em seus alunos, comprou uma mala. Nela, colocou os livros de poemas que mais gostava de ler e partiu para a sala de aula. Lá chegando disse: – Aqui compartilho aqueles que eu leio por prazer. Desafio encontrarem pelo menos um poema de que gostem e queiram compartilhar também.
O que aconteceu, não sabia explicar, mas naquele dia os alunos abriram os livros curiosos.
Uns conversavam sobre o que liam, outros procuravam em silêncio, mas todos, sem exceção, liam poemas.
Uns conversavam sobre o que liam, outros procuravam em silêncio, mas todos, sem exceção, liam poemas.
Esta crônica representa uma ideia simples, poderosa e que todo mundo sabe: ler é bom. Porém, o que é novo na atitude da inquieta professora é que muitas vezes, nós, pais e professores, geralmente falamos sobre como ler é bom, mas quantas vezes oferecemos um livro interessante para que nossos filhos e alunos leiam por prazer, livremente?
Nas últimas décadas, há muitas pesquisas que comprovam as vantagens da leitura livre para o desenvolvimento das habilidades de ler e escrever, da manipulação da gramática e do vocabulário, como também para todas as tarefas que exigem interpretação. Essas vantagens são percebidas na aprendizagem da língua materna ou de uma segunda língua, em crianças e em adultos, quando passam a ler livros livremente, por prazer.
As pesquisas também mostram que é desnecessário dizer para crianças e jovens que ler é bom, a massiva maioria concorda e, criadas as circunstâncias, eles lerão. A tarefa que nos cabe então é criar a circunstância (que se tornará um círculo vicioso): dar acesso a livros interessantes e deixar que leiam fará com que queiram ler mais.
Agora, pensemos o quanto isso pode ser vantajoso no ensino da língua de herança para nossos filhos e alunos. No entanto, aqui, a questão do acesso torna-se ainda mais problemática e desafiadora para pais e professores.
Além de comprar livros em todas as viagens ao Brasil, uma solução que encontrei para alimentar minha pequena biblioteca em língua portuguesa são as visitas de parentes. Sempre que um parente que vive no Brasil me pergunta qual presente dar a meus filhos eu respondo: literatura infantil (de qualquer país), mas em língua portuguesa.
Mas também poderíamos encarar o desafio do acesso coletivamente, como uma comunidade. Primeiro, criar formas de fomentar as bibliotecas das escolas que nossos filhos frequentam com livros em nosso idioma; segundo, criar bibliotecas comunitárias em língua portuguesa, que podem, inclusive, ser móveis e viajarem por aí, como se fossem gigantescas malas de livros.
Ler é bom porque as palavras precisam ser preenchidas por nossa imaginação. Ler é bom porque é prazeroso envolver nossas sensações em um outro ser e estar que não tem os limites da nossa realidade. Vamos fazer nossas malas?
• Se você quiser ler uma pesquisa sobre a leitura livre:
Stephen D. Krashen. The Power of Reading: Insights from the research. USA: Libraries Unlimited.
• Em Miami, o Centro Cultural Brasil-USA da Flórida guarda um acervo de 3000 livros em língua portuguesa. A biblioteca “Nélida Piñon” está aberta ao público e fica no Consulado Brasileiro, 80 SW 8th Street, suíte 2600. Para mais informações:
• O site domínio público apresenta um acervo de obras literárias em língua portuguesa para crianças e adultos:
• A Universidade Federal de Santa Catarina oferece um portal com obras literárias em língua portuguesa. Acesse para ler:
• Podemos também utilizar os novos suportes (computadores, tabletes e telefones) para oferecer bons livros para nossos pequenos leitores. Confira:
• O site da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil apresenta listas de livros premiados anualmente. Confira os títulos:
Se você é professor e deseja fazer parte da American Organization of Teachers of Portuguese, AOTP, visite o site www.aotpsite.org ou entre em contato pelo e-mail info@aotpsite.org .
O que tem na mala da professora ?
Respiro ofegante. Trago nas mãos uma pequena mala e uma agenda tinindo de nova. É meu primeiro dia de aula. Venho substituir uma professora que teve que se ausentar "por motivo de força maior". Entro timidamente na sala dos professores e sou encarada por todos. Uma das colegas, tentando me deixar mais à vontade, pergunta:
- É você que veio substituir a Edith?
- Sim - respondo num fio de voz.
- Fala forte, querida, caso contrário vai ser tragada pelos alunos - e morre de rir.
- Ela nem imagina o que a espera, não é mesmo? - e a equipe toda se diverte com a minha cara.
Convidada a me sentar, aceito para não parecer antipática. Eles continuam a conversar como se eu não estivesse ali. Até que, finalmente, toca o sinal. É hora de começar a aula. Pego meu material e percebo que me olham curiosos para saber o que tenho dentro da mala. Antes que me perguntem, acelero o passo e sigo para a sala de aula. Entro e vejo um montão de olhinhos curiosos a me analisar que, em seguida, se voltam para a maleta. Eu a coloco em cima da mesa e a abro sem deixar que vejam o que há lá dentro.
- O que tem aí, professora?
- Em breve vocês saberão.
No fim do dia, fecho a mala, junto minhas coisas e saio. No dia seguinte, me comporto da mesma maneira, e no outro e no noutro... As aulas correm bem e sinto que conquistei a classe, que participa com muito interesse. Os professores já não me encaram. A mala, porém, continua sendo alvo de olhares curiosos.
Chego à escola no meu último dia de aula. A titular da turma voltará na semana seguinte. Na sala dos professores ouço a pergunta guardada há tantos dias:
- Afinal, o que você guarda de tão mágico dentro dessa mala que conseguiu modificar a sala em tão pouco tempo?
- Podem olhar - respondo, abrindo o fecho.
- Mas não tem nada aí! - comentam.
- O essencial é invisível aos olhos. Aqui guardo o meu melhor.
Todos ficam me olhando. Parecem estar pensando no que eu disse. Pego meu material, me despeço e saio.
"Ser educador é ser um poeta do amor.
Educar é acreditar na vida e ter esperança no futuro.
Educar é semear com sabedoria e colher com paciência."
Augusto Cury
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