O apanhador de desperdícios
Uso a palavra para compor meus silêncios
Não gosto das palavras
fatigadas de informar,
dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
Eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.
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Homenagem do Kidsindoors
PROJETO CRIANCEIRAS
POEMINHAS EM LÍNGUA DE BRINCAR
Ele tinha no rosto um sonho de ave extraviada.
Falava em língua de ave e de criança.
Sentia mais prazer de brincar com as palavras
do que de pensar com elas.
Dispensava pensar.
Quando ia em progresso para árvore queria florear.
Gostava mais de fazer floreios com as palavras do que de fazer idéias com elas.
Aprendera no Circo, há idos, que a palavra tem
que chegar ao grau de brinquedo
para ser séria de rir.
Contou para a turma da roda que certa rã saltara
sobre uma frase dele
E que a frase sem arriou.
Decerto não arriou porque não tinha nenhuma
palavra podre nela.
Nisso que o menino contava a estória da rã na frase
Entrou uma Dona de nome Lógica da Razão.
A Dona usava bengala e salto alto.
De ouvir o conto da rã na frase a Dona falou:
Isso é língua de brincar e é idiotice de
criança
Pois frases são letras sonhadas, não têm peso,
nem consistência de corda para agüentar uma rã
em cima dela
Isso é Língua de raiz – continuou
É Língua de faz de conta
É Língua de brincar!
Mas o garoto que tinha no rosto um sonho de ave
Extraviada
Também tinha por sestro jogar pedrinhas no bom
senso.
E jogava pedrinhas:
Disse que ainda hoje vira a nossa tarde sentada
sobre uma lata ao modo que um bem-te-vi sentado
na telha.
Logo entrou a dona Lógica da Razão e bosteou:
Mas lata não aguenta uma tarde em cima dela, e
ademais a lata não tem espaço para caber uma
Tarde nela!
Isso é Língua de brincar
É coisa-nada
O menino sentenciou:
Se o Nada desaparecer a poesia acaba.
E se internou na própria casca ao jeito que o
jabuti se interna.
Falava em língua de ave e de criança.
Sentia mais prazer de brincar com as palavras
do que de pensar com elas.
Dispensava pensar.
Quando ia em progresso para árvore queria florear.
Gostava mais de fazer floreios com as palavras do que de fazer idéias com elas.
Aprendera no Circo, há idos, que a palavra tem
que chegar ao grau de brinquedo
para ser séria de rir.
Contou para a turma da roda que certa rã saltara
sobre uma frase dele
E que a frase sem arriou.
Decerto não arriou porque não tinha nenhuma
palavra podre nela.
Nisso que o menino contava a estória da rã na frase
Entrou uma Dona de nome Lógica da Razão.
A Dona usava bengala e salto alto.
De ouvir o conto da rã na frase a Dona falou:
Isso é língua de brincar e é idiotice de
criança
Pois frases são letras sonhadas, não têm peso,
nem consistência de corda para agüentar uma rã
em cima dela
Isso é Língua de raiz – continuou
É Língua de faz de conta
É Língua de brincar!
Mas o garoto que tinha no rosto um sonho de ave
Extraviada
Também tinha por sestro jogar pedrinhas no bom
senso.
E jogava pedrinhas:
Disse que ainda hoje vira a nossa tarde sentada
sobre uma lata ao modo que um bem-te-vi sentado
na telha.
Logo entrou a dona Lógica da Razão e bosteou:
Mas lata não aguenta uma tarde em cima dela, e
ademais a lata não tem espaço para caber uma
Tarde nela!
Isso é Língua de brincar
É coisa-nada
O menino sentenciou:
Se o Nada desaparecer a poesia acaba.
E se internou na própria casca ao jeito que o
jabuti se interna.
Borboletas me convidaram a elas.
O privilégio insetal de ser uma borboleta me atraiu.
Por certo eu iria ter uma visão diferente dos homens e das coisas.
Eu imaginava que o mundo visto de uma borboleta seria, com certeza,
um mundo livre aos poemas.
Daquele ponto de vista:
Vi que as árvores são mais competentes em auroras do que os homens.
Vi que as tardes são mais aproveitadas pelas garças do que pelos homens.
Vi que as águas têm mais qualidade para a paz do que os homens.
Vi que as andorinhas sabem mais das chuvas do que os cientistas.
Poderia narrar muitas coisas ainda que pude ver do ponto de vista de
uma borboleta.
Ali até o meu fascínio era azul.
__Manoel de Barros, Borboletas, in Ensaios Fotográficos
Poema arte de infantilizar formigas
- meu avô começou a dar germínios
Queria ter filhos com uma árvore.
Sonhava de pegar um casal de lobisomem para ir
vender na cidade.
Meu avô ampliava a solidão.
No fim da tarde, nossa mãe aparecia nos fundos do
quintal : Meus filhos, o dia já envelheceu, entrem pra
dentro.
Um lagarto atravessou meu olho e entrou para o mato.
Se diz que o lagarto entrou nas folhas, que folhou.
Aí a nossa mãe deu entidade pessoal ao dia.
Ela deu ser ao dia,
e Ele envelheceu como um homem envelhece.
Talvez fosse a maneira
Que a mãe encontrou para aumentar
as pessoas daquele lugar
que era lacuna de gente.
Atividade + apanhador de desperdícios
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Oi amiga!
ResponderExcluirObrigada pela bela sugestão.TÔ reunindo material para trabalhar com o terceiro ano em 2015.Bjo grande e feliz final de semana.