A esperança engana.
Mente o sonho.
Eu sei.
Que mentiras lindas
eu mesma inventei
e contei pra mim ...
O Dom de Sonhar
Helena Kolody
Sonhar
Sonhar é transportar-se em asas de ouro e aço
Aos páramos azuis da luz e da harmonia;
É ambicionar o céu; é dominar o espaço,
Num vôo poderoso e audaz da fantasia.
Fugir ao mundo vil, tão vil que, sem cansaço,
Engana, e menospreza, e zomba, e calunia;
Encastelar-se, enfim, no deslumbrante paço
De um sonho puro e bom, de paz e de alegria.
É ver no lago um mar, nas nuvens um castelo,
Na luz de um pirilampo um sol pequeno e belo;
É alçar, constantemente, o olhar ao céu profundo.
Sonhar é ter um grande ideal na inglória lida:
Tão grande que não cabe inteiro nesta vida,
Tão puro que não vive em plagas deste mundo.
Trouxe do blog
Poesia mínima
“Pintou estrelas no muro
e teve o céu
ao alcance das mãos.”
Jornal:
Notícia de sua morte:
Brasil perde Helena Kolody
18/02/04
por Diogo Dreyer
Morreu em Curitiba, no dia 14 de fevereiro, a poetisa Helena Kolody. A autora, que completaria 92 anos em outubro, publicou mais de 25 livros e era considerada uma das mais influentes escritoras paranaenses.
O Brasil perdeu Helena Kolody, considerada uma das vozes mais importantes da história da literatura do estado do Paraná. A poetisa morreu no Hospital de Caridade de Curitiba (antiga Santa Casa de Misericórdia) em conseqüência de uma arritmia cardíaca.
Muitas pessoas estiveram presentes no enterro, desde familiares e amigos até ex-alunas da época em que Helena lecionava na então Escola Normal de Curitiba, hoje Instituto de Educação, instituição à qual dedicou 23 anos de sua vida. Também não faltaram integrantes da Academia Paranaense de Letras, onde, desde 1991, a autora ocupava a cadeira de número 28.
Dedicada à arte de escrever de forma sucinta e singela sobre sentimentos ao mesmo tempo preciosos e corriqueiros da vida, Helena deixa como legado vários livros de poemas. Hábil com as palavras, ela tinha uma desenvoltura natural para haicais e tankas — que são pequenos poemas de origem japonesa —, de versos simples, mas profundo significado.
Além de sua obra, a escritora paranaense, que nasceu na cidade de Cruz Machado, no sul do estado do Paraná, deixa como lembrança sua personalidade doce, seu bom humor e sua disposição para ajudar quem mais necessitava.
http://www.educacional.com.br/noticiacomentada/040218_not01.asp
“Palavras são pássaros,
Voaram!
Não nos pertencem mais.”
Prece
Concede-me, Senhor, a graça de ser boa,
De ser o coração singelo que perdoa,
A solícita mão que espalha, sem medidas,
Estrelas pela noite escura de outras vidas
E tira d’alma alheia o espinho que magoa.
Arco-íris no céu.
Está sorrindo o menino
que há pouco chorou
1988
Quem é essa
que me olha
de tão longe,
com olhos que foram meus?
Olhos de antes
Em vão percorro a cidade
com meus olhos de antes.
As ruas não são as mesmas...
E são outros os passantes
Bailarina
Dança a labareda branca
num lampejo de beleza.
Em silenciosa eloqüência
sua expressão corporal
delineia o pensamento.
Leve, o gesto devaneia,
transfigura em movimento
o motivo musical
Infância
Aquelas tardes de Três Barras
Plenas de sol e de cigarras!
Quando eu ficava horas perdidas
Olhando a faina das formigas
Que iam e vinham pelos carreiros,
No áspero tronco dos pessegueiros.
A chuva-de-ouro
Era um tesouro,
Quando floria.
De áureas abelhas
Toda zumbia.
Alfombra flava
O chão cobria...
O cão travesso, de nome eslavo,
era um amigo, quase um escravo.
Merenda agreste:
Leite ciroulo,
Pão feito em casa,
Com mel dourado,
Cheirando a favo.
Ao lusco-fusco, quanta alegria!
A meninada toda acorria
Para cantar, no imenso terreiro:
"Mais bom dia, Vossa Senhoria"...
"Bom barqueiro! Bom barqueiro..."
Soava a canção pelo povoado inteiro
E a própria lua cirandava e ria.
Se a tarde de domingo era tranqüila,
Saía-se a flanar, em pleno sol,
No campo, recendente a camomila.
Alegria de correr até cair,
Rolar na relva como potro novo
E quase sufocar, de tanto rir!
No riacho claro, às segundas-feiras,
Batiam roupas as lavadeiras
Também a gente lavava trapos
Nas pedras lisas, nas corredeiras;
Catava limo, topava sapos
(Ai, ai, que susto! Virgem Maria!)
Do tempo, só se sabia
Que no ano sempre existia
O bom tempo das laranjas
E o doce tempo dos figos...
Longínqua infância... Três Barras
Plena de sol e cigarras!
Fio d'agua
Não quero ser o grande rio caudaloso
Que figura nos mapas.
Quero ser o cristalino fio d’água
Que canta e murmura na mata silenciosa
Trouxe daqui:
http://horasaveludadas.blogspot.com/2008_08_01_archive.html
Vida
Semente oculta na polpa do fruto,
A morte habita o âmago da vida.
Demora em nós a eternidade
E espera que se cumpra
O tempo da sazão.
Tombaremos no solo escuro.
Do alto ramo oscilante,
Procuraremos ignorá-lo.
Semente oculta na pola do fruto.
A vida brota do âmago da morte,
Imperecível
Maquinomem
O homem esposou a máquina
e gerou um híbrido estranho:
um cronômetro no peito
e um dínamo no crânio.
As hemácias de seu sangue
são redondos algarismos.
Crescem cactos estatísticos
em seus abstratos jardins.
Exato planejamento,
a vida do maquinomem.
Trepidam as engrenagens
no esforço das realizações.
Em seu íntimo ignorado,
há uma estranha prisioneira,
cujos gritos estremecem
a metálica estrutura;
há reflexos flamejantes
de uma luz imponderável
que perturbam a frieza
do blindado maquinomem
Retorno
Voltando em busca de mim
encontrei-me diferente
quase desconhecida
(Porém a luz recolhida,
era a minha alma de sempre.)
Apelidos
Eram Jucas e Chiquinhos,
Ninas, Lolas, Mariquitas.
Apelidos que o amor
seleva nas criaturas.
Hoje são números.
(Computadores não programam ternura)
(para uma criança da favela)
Canção de ninar
Criança, és fio d'água
Triste desde a fonte.
Humilde plantinha
Nascido em monturo:
Quanta ausência mora
Nesse olhar escuro!
Recosta a cabeça
Na minha cantiga
Deixa que te envolva,
Que te beije e embale
Retrato antigo
Quem é essa
que me olha
de tão longe,
com olhos que foram meus?
Olhos de antes
Em vão percorro a cidade
com meus olhos de antes.
As ruas não são as mesmas...
E são outros os passantes
Bailarina
Dança a labareda branca
num lampejo de beleza.
Em silenciosa eloqüência
sua expressão corporal
delineia o pensamento.
Leve, o gesto devaneia,
transfigura em movimento
o motivo musical
Infância
Aquelas tardes de Três Barras
Plenas de sol e de cigarras!
Quando eu ficava horas perdidas
Olhando a faina das formigas
Que iam e vinham pelos carreiros,
No áspero tronco dos pessegueiros.
A chuva-de-ouro
Era um tesouro,
Quando floria.
De áureas abelhas
Toda zumbia.
Alfombra flava
O chão cobria...
O cão travesso, de nome eslavo,
era um amigo, quase um escravo.
Merenda agreste:
Leite ciroulo,
Pão feito em casa,
Com mel dourado,
Cheirando a favo.
Ao lusco-fusco, quanta alegria!
A meninada toda acorria
Para cantar, no imenso terreiro:
"Mais bom dia, Vossa Senhoria"...
"Bom barqueiro! Bom barqueiro..."
Soava a canção pelo povoado inteiro
E a própria lua cirandava e ria.
Se a tarde de domingo era tranqüila,
Saía-se a flanar, em pleno sol,
No campo, recendente a camomila.
Alegria de correr até cair,
Rolar na relva como potro novo
E quase sufocar, de tanto rir!
No riacho claro, às segundas-feiras,
Batiam roupas as lavadeiras
Também a gente lavava trapos
Nas pedras lisas, nas corredeiras;
Catava limo, topava sapos
(Ai, ai, que susto! Virgem Maria!)
Do tempo, só se sabia
Que no ano sempre existia
O bom tempo das laranjas
E o doce tempo dos figos...
Longínqua infância... Três Barras
Plena de sol e cigarras!
Fio d'agua
Não quero ser o grande rio caudaloso
Que figura nos mapas.
Quero ser o cristalino fio d’água
Que canta e murmura na mata silenciosa
Trouxe daqui:
http://horasaveludadas.blogspot.com/2008_08_01_archive.html
Link para essa postagem
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe seu comentário e retornarei assim que for possível.
Obrigada pela visita e volte mais vezes!
Linguagem não se responsabilliza por ANÔNIMOS que aqui deixam suas mensagens com links duvidosos. Verifiquem a procedência do comentário!
Nosso idioma oficial é a LINGUA PORTUGUESA, atenção aos truques de virus.
O blogger mudou sua interface em 08/2020. Peço desculpas se não conseguir ainda ler seu comentário.