MINHA PRINCESA AFRICANA
Uma história de amor...
Autor(es): Márcio Vassallo
Ilustrador(es): Carol W.
Nesta história, o narrador fala de seu amor por Marinela, uma princesa lá de Angola, branquela e com mais sardas do que o céu de Luanda. Como se viram apenas uma vez, o jeito era comunicar-se por meio de cartas, telegramas e telefone. Uma infinidade de mensagens saudosas, mas todas sem abreviaturas, ''porque tem sentimento que não dá para abreviar''. Um dia, os pais da princesa proporcionaram o reencontro dos dois, felicidade que durou sete dias. Mas, como quase tudo tem um mas , a princesa voltou para sua terra e depois ligou, terminando o namoro, porque havia lonjura demais entre eles. E ficou apenas a beleza da música das palavras do adeus.
ATIVIDADES SUGERIDAS
- Localizar Angola no mapa da África e pesquisar com os alunos algumas características do lugar, como: situação econômica e política, hábitos, vestuário, alimentação, etc.
- Discutir a forma de comunicação usada pelos namorados, comparando-a com os sistemas preconizados pelas novas tecnologias.
- Pedir comentários sobre a frase: ''Não dá para achar beleza no meio de tanta tristeza'', relacionando-a
- Levantar aspectos da ilustração que lembram o clima de romantismo, os contos de fadas e a leveza dos sentimentos.
- Propor a produção de um texto que conte uma história de saudades.
Livro:
Versos de Orgulho
O mundo quer-me mal porque ninguém
Tem asas como eu tenho! Porque Deus
Me fez nascer Princesa entre plebeus
Numa torre de orgulho e de desdém!
Porque o meu Reino fica para Além!
Porque trago no olhar os vastos céus,
E os oiros e os clarões são todos meus!
Porque Eu sou Eu e porque Eu sou Alguém!
O mundo! O que é o mundo, ó meu amor?!
O jardim dos meus versos todo em flor,
A seara dos teus beijos, pão bendito,
Meus êxtases, meus sonhos, meus cansaços...
São os teus braços dentro dos meus braços:
Via Láctea fechando o Infinito!...
Florbela Espanca, in "Charneca em Flor"
Conta a Lenda que Dormia
Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.
Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.
A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera.
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.
Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado.
Ele dela é ignorado.
Ela para ele é ninguém.
Mas cada um cumpre o Destino —
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.
E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E, vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora.
E, inda tonto do que houvera,
A cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.
LEITURAS COMPARTILHADAS
PRINCESAS AFRICANAS | WWW.LEIABRASIL.ORG.BR
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"
Aqui várias histórias de princesas...
África dos meus sonhos - Petrobras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .5
• Princesas africanas - Jason Prado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .7
• O sonho de ser princesa - Andréa Bastos Tigre - Rossely Peres . . . . . . . . . . . . . . . .15
• As princesas nos contos de fadas - Sonia Rodrigues . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .17
• São outras as nossas princesas - Sueli de Oliveira Rocha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .21
• Que fada é essa? - Maria Clara Cavalcanti de Albuquerque . . . . . . . . . . . . . . . . . . .25
• A donzela, o sapo e o filho do chefe - Maria Clara Cavalcanti de Albuquerque . . . . . .27
• Rainhas negras na África e no Brasil - Luiz Geraldo Silva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .31
• As princesas africanas - Braulio Tavares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .33
• O casamento da princesa - Celso Sisto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .37
• Minha princesa africana - Márcio Vassalo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .41
Minha princesa africana
Márcio Vassallo
O nome dela era Marinela. Ninguém acreditava que eu namorava uma princesa africana.
Algumas pessoas nem sabiam que existia princesa na África.
Mas a minha era de lá mesmo, de Luanda.
A Marinela era branquela e tinha mais sardas do que o céu de Angola.
Quando ela pegava sol, era o sol que pegava a Marinela.
E a princesa ficava com a pele vermelha que nem a areia do deserto de Kalahari.
Na realidade, a gente só tinha se visto uma vez na vida e todos os dias esperava pelo dia de se ver de novo.
Enquanto esse dia não chegava, a Marinela me telefonava todas as noites e nós conversávamos até ela dormir. Botar uma princesa para dormir, pelo telefone,e escutar a voz dela se desmanchando, no meio do escuro, me tirava o sono.
Com o seu sotaque português, a princesa me dizia que só conseguia dormir depois de me ouvir.
Ou será que era eu que só conseguia dormir depois de falar no ouvido dela?
Sem nem saber dessa dúvida, no final do mês, a rainha e o rei ficavam desesperados com a paixão da filha e suas intermináveis contas de telefone, mais altas que as torres
do castelo, mais esticadas que beijo a distância.
Todos os dias eu escrevia cartas de amor para a Marinela.
As minhas cartas eram ainda mais compridas do que as horas que a gente passava se ouvindo.
E as horas que a gente passava se ouvindo eram maiores que todas as selvas da África.
Eu passava o dia escrevendo para ela, mesmo quando nem me sentava para escrever, mesmo quando escrevia só na minha ideia, sem passar para o papel.
E quando eu entrava na agência dos correios, perto da minha casa, as moças do balcão ficavam de riso exibido para mim.
Afinal, tinha tardes que eu chegava lá com mais que um bocado de envelopes de cartas, todos endereçados para a mesma dona.
E se me desse naquela hora uma vontade de dizer para a Marinela a mesma coisa que eu dizia sempre, mas de uma forma diferente, eu escrevia telegramas que não acabavam nunca, sem nenhuma abreviatura e cheios de repetições.
Porque tem sentimento que não dá para abreviar e quem ama é repetitivo mesmo.
Porque tem sentimento que não dá para abreviar e quem ama é repetitivo mesmo.
Muitas cartas e muitos telefonemas depois,
para amansar o coração da filha e passear de carruagem nova, a rainha e o rei saíram
do castelo com ela, lá do outro lado da lonjura, e chegaram à minha cidade.
Então, a Marinela e eu nos reencontramos.
A primeira vez que a gente se viu de novo foi no calçadão de Ipanema.
Foi um susto ver que a minha princesa africana existia mesmo.
E foi uma delícia ver que ela também não acreditava que eu existia.
Depois, a gente continuou a se olhar com olho de primeira vez, durante uma semana.
É, a gente foi mesmo feliz para sempre, durante os sete dias que passou junto.
Mas a princesa teve que voltar para Angola.
Assim, depois que nós nos despedimos, eu escrevi para ela mais cartas do que todos os homens já escreveram antes e ela me ligou mais vezes do que todas as pessoas do mundo já ligaram para alguém na vida.
Assim, depois que nós nos despedimos, eu escrevi para ela mais cartas do que todos os homens já escreveram antes e ela me ligou mais vezes do que todas as pessoas do mundo já ligaram para alguém na vida.
Bem, um dia, a Marinela me telefonou, mas não foi para falar de amor, não.
Ela me ligou para me dizer que precisávamos terminar de namorar, porque havia lonjura demais entre nós, para sustentar tanto sentimento.
A gente não sabia que a lonjura era justamente o que sempre tinha sustentado aquela paixão toda.
- Sei que eu devo estar fazendo a maior bobagem da minha vida
- ela me disse, chorando sem parar. E começou a me falar de outras coisas que atravessavam a pé o seu coração. Só que eu nem escutava mais o que a princesa me dizia, porque só pensava na frase em que ela falava sobre a tal da sua maior bobagem.
Depois dessa frase, só prestei atenção na música daquela voz, sem ouvir mais tanto a letra.
Depois dessa frase, só prestei atenção na música daquela voz, sem ouvir mais tanto a letra.
"Ai que cena bonita, ela me dizendo isso com esse sotaque", eu pensava na hora, de choro preso, me fazendo de forte.
No mesmo dia, de choro corrido com um riso no meio, contei para o meu mais velho amigo o
quanto eu tinha achado bela aquela cena.
E ele me disse que eu estava mais doido do que nunca e que eu não podia achar beleza no meio de tanta tristeza. - Isso é ainda mais estranho do que você ter namorado uma princesa africana, durante tanto tempo, assim, por carta e telefone o meu amigo concluiu.
E ele me disse que eu estava mais doido do que nunca e que eu não podia achar beleza no meio de tanta tristeza. - Isso é ainda mais estranho do que você ter namorado uma princesa africana, durante tanto tempo, assim, por carta e telefone o meu amigo concluiu.
Esta carta, que tu estás lendo agora, é a que eu nunca mandei para a princesa, e que ela provavelmente nunca lerá.
Ou será que lerá? Ah, só de imaginar...
Ela, casada com um homem que preste mais atenção na letra do que na música, mãe de um menino, morando em alguma outra lonjura por aí, com aqueles olhos, lendo a minha última carta, e comentando a estranheza com uma velha amiga, nem tão velha, nem tão amiga.
E tudo isso com aquele sotaque.
Ai que cena bonita, ai que cena bonita!
• Uma princesa em São Tomé e Príncipe - Ana Lúcia Silva Souza . . . . . . . . . . . . . . .43
• Princesa de África, o filme - Uma entrevista com Juan Laguna . . . . . . . . . . . . . . . .47
• Iya Ibeji, a mãe dos gêmeos - A leitura dos símbolos nagô - Marco Aurélio Luz . . . . . .51
• A lenda da princesa negra que incendiou o mar - Geraldo Maia . . . . . . . . . . . . . . .55
• Nas malhas das imagens e nas trilhas da resistência: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
heroínas negras de ontem e de hoje - Andréia Lisboa de Sousa . . . . . . . . . . . . . . .59
• Uma guerreira - Julio Emilio Braz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .63
• Princesa, não. Mas... - Marina Colasanti . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .65
• Os três cocos - Maria Clara Cavalcanti de Albuquerque . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .69
• Uma princesa afrodescendente - Sueli de Oliveira Rocha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .73
• Princesa descombinada - Janaína Michalski . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .77
• Princesas africanas e algumas histórias - Tiely Queen (Atiely Santos) . . . . . . . . . . . .79
• Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .83
Link para essa postagem
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe seu comentário e retornarei assim que for possível.
Obrigada pela visita e volte mais vezes!
Linguagem não se responsabilliza por ANÔNIMOS que aqui deixam suas mensagens com links duvidosos. Verifiquem a procedência do comentário!
Nosso idioma oficial é a LINGUA PORTUGUESA, atenção aos truques de virus.
O blogger mudou sua interface em 08/2020. Peço desculpas se não conseguir ainda ler seu comentário.