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domingo, janeiro 27, 2013

Minhas férias pula uma linha, parágrafo > Estímulos literários > Reflexão para o professor> 27/01/13


Minhas férias pula uma linha, parágrafo.


Christiane Gribe
E agora??? Nenhuma ideia na cabeça de Guilherme!
Por onde começar a tradicional redação sobre “minhas férias”? Essa é a indagação de Gui em todo início de ano letivo.
Os dias mais gostosos para se ir à escola, para Guilherme, são o primeiro e o último até que... no primeiro dia... a professora de Português pede à turma para escrever uma redação sobre as férias. E imagina só: essa redação deveria ter trinta, eu disse trinta linhas, nem mais nem menos. Exatamente trinta linhas!
Para tormento de Gui.
O Gui é um menino de 11 anos, que vivera muitas aventuras em suas férias e, para ele, não havia possibilidade alguma de suas férias i-n-t-e-i-r-i-n-h-a-s caberem em apenas trinta linhas.
E o pior, teria, ainda, que resumi-la, pois só havia 15 minutinhos para escrevê-la!
Como resumir as férias incríveis em trinta linhas e em apenas 15 minutos?
Com essa preocupação toda, ele escreve o que vem à cabeça e acaba colocando o sistema tradicional de ensino em cheque.
As indagações e observações que Guilherme escreve em sua redação deixam a professora assustada e, por causa disso, ela lhe dá uma tarefa, e esta, para ele, era o maior tormento de sua vida, era pior até do que ser expulso da escola: escrever uma redação para o diretor da escola, só que nesta redação ele deveria contar tudo o que havia feito na aula de português.
Mas algo mudaria o rumo desse “castigo” (pois para Gui, escrever obedecendo um monte de regras era um verdadeiro castigo!), e o que ele nem imaginava é que acabaria escrevendo uma história digna de publicação.
E imagina só: justo porque não gostava de escrever!!!
Se você ficou interessado na história não espere mais: corra para a biblioteca mais próxima e veja o que Guilherme acaba fazendo depois de conversar com o diretor da escola.
 A história interinha....
Um
O primeiro dia de aula é o dia que eu mais gosto em segundo lugar.
O que eu mais gosto em primeiro é o último, porque no dia seguinte chegam as férias.
Os dois são os melhores dias na escola porque a gente nem tem aula.
 No primeiro dia não dá para ter aula porque o nosso corpo está na escola, mas a nossa cabeça ainda está de férias.
E no último, também não dá para ter aula porque o nosso corpo está na escola, mas a nossa cabeça já está nas férias.
Era o primeiro dia e era para ser a aula de português, mas não era porque todo mundo estava contando das férias.
E como todo mundo queria contar mais do que ouvir, o barulho na classe estava mesmo ensurdecedor.
O que explica o fato de ninguém ter escutado a professora gritando para a gente parar de gritar. Todo mundo estava bem surdo mesmo.
Mas quando ela bateu com os livros em cima da mesa a nossa surdez passou e todo mundo olhou para ela. Ela estava em pé, na frente do quadro-negro e ficou em silêncio, com uma cara bem brava, olhando para a gente.
Quando um professor está em silêncio com uma cara bem brava olhando para você, é melhor também ficar em silêncio com uma cara de sem graça olhando para um ponto qualquer que não seja a cara brava do professor.
A professora puxou a cadeira dela e se sentou. Atrás dela, no quadro-negro, eu vi decretado o fim das nossas férias e o fim do nosso primeiro dia de aula sem aula.
Estava escrito: Redação: escrever trinta linhas sobre as férias.
Eu sabia que as férias de ninguém iam ser mais as mesmas na hora que virassem redação.
É simples: férias é legal, redação é chato.
Quando a gente transforma as nossas férias numa redação, elas não são mais as nossas férias, são a nossa redação. Perdem toda a graça.
Todo mundo tirou o caderno de dentro da mochila. Menos eu. Eu fiquei olhando para aquela frase no quadro enquanto os zíperes e velcros das mochilas eram os únicos barulhos na sala.
De repente as nossas férias ficaram silenciosas. Onde já se viu férias sem barulho?
Além do mais, eu tenho certeza de que a professora nem quer saber de verdade como foram as nossas férias.
Ela quer só saber como é a nossa letra e se a gente tem jeito para escrever redação.
Aqueles dois meses inteirinhos de despreocupações estavam prestes a virar trinta linhas de preocupações com acentos, vírgulas, parágrafos e ainda por cima com a letra ilegível depois de tanto tempo sem treino.


Dois
A turma inteira já estava escrevendo quando eu percebi que a professora estava só olhando para mim.
Quando um professor fica parado só olhando para você é porque você tinha estar fazendo outra coisa que não era o que você estava fazendo.
 A outra coisa que eu tinha que estar fazendo era minha redação.
Então eu puxei a minha mochila e peguei o caderno.
É claro que minha mochila tem o fecho de velcro e que todo mundo olhou para mim quando eu abri. Só a professora que não olhou de novo porque ela já estava olhando antes mesmo.
Peguei a caneta. Eu nem sabia mais segurar direito a caneta.
Escrevi: Minhas Férias
Mas a letra ficou péssima e eu resolvi arrancar a folha para começar bem o meu caderno.
E todo mundo olhou de novo para mim, até a professora que já tinha parado de me olhar.
Troquei a caneta por um lápis, porque se a letra ficasse horrível era só apagar em vez de ter que arrancar outra folha.
Coloquei as minhas férias lá no alto e bem no meio da página.
Pulei uma linha.
Parágrafo.


Minhas férias
Outro problema de transformar as nossas férias em redação é fazer os dois meses caberem nas tais trinta linhas.
Porque se a gente fosse contar mesmo tudo o que aconteceu, as trinta linhas iam servir só para um dia de férias e olhe lá.
E aí você olha para o seu relógio e descobre que as trinta linhas, que pareciam poucas para contar todas as suas férias, viram muitas porque você só tem mais 15 minutos de aula para fazer a redação. Começar as férias é a coisa mais fácil do mundo.
 Em compensação, começar redação sobre as férias é tão difícil quanto começar as aulas.
Fiquei me lembrando como é que eu tinha começado as minhas férias de verdade.
Assim eu podia começar a redação do mesmo jeito.
Mas eu comecei as minhas férias de verdade arrumando a mala para ir para a casa do meu avô.
E agora só faltavam 12 minutos para terminar a aula.
 Em 12 minutos eu não ia conseguir arrumar a mala. Pelo menos não do jeito que a minha mãe gosta que eu arrume.
Então decidi começar as férias de minha redação direto da casa do meu avô.


Minhas férias
Eu sempre adoro as minhas férias na casa do meu avô.
Principalmente porque não tem aula. Não.
Talvez seja um começo de redação muito pesado para o começo das aulas.


Minhas férias
Eu sempre adoro as minhas férias na casa do meu avô.
Lá tem um campinho de futebol bem legal e uma turma de amigos bem grande.
Isso é perfeito porque um campinho sem uma turma grande não serve para nada.
 E uma turma grande sem campinho não cabe em lugar nenhum que não seja um campinho.
A gente passa o dia todo jogando futebol e só para de jogar quando já está escuro e não dá mais para ver a bola.
Então já é hora de jantar.
Depois do jantar, os meus melhores amigos da turma vão para a casa do meu avô e a gente pode continuar jogando, só que futebol de botão que não dá indigestão.
Aí, a gente pode jogar até tarde porque no dia seguinte não tem aula.
 É por isso que férias é bom.
Achei que desse jeito a minha observação a respeito das aulas ficava mais sutil. Continuei.
Um dia que eu fiz um golaço. Não no futebol de botão, no de verdade.
O gol veio de um passe de craque do Paulinho que é o meu melhor amigo entre os meus melhores amigos da turma.
Você sabe que para jogar futebol não adianta só ser bom de bola. Tem que ter tatica.
O Paulinho driblou um, dois e eu vi que ele ia passar pelo terceiro.
Ele também me viu. Aí eu me enfiei pela esquerda e recebi a bola. Chutei direto.
 Eu fiz um golaço tão grande que furou a rede e estilhaçou em mil pedaços a janela do vizinho. Deu a maior confusão porque enquanto a turma pulava o vizinho apareceu bravo com a bola em baixo do braço e a mulher dele veio atrás.
Eu tive até que parar com a minha comemoração.
Mas a mulher do vizinho que veio atrás dele falou para ele que criança é assim mesmo e que a gente estava só se divertindo e que ninguém fez aquilo de propósito.
E era verdade mesmo porque a culpa nossa da rede ter furado. E aí acabou ficando tudo bem.
O meu vizinho devolveu a bola, verificou a rede e disse que o meu gol foi mesmo um golaço mas que era para a gente tomar mais cuidado com as janelas da casa do lado.
O sinal tocou bem nessa hora.
Eu nem contei quantas linhas eu tinha escrito porque não ia dar tempo de mudar nada mesmo. Arranquei a folha e dei as minhas férias para a professora.


Três
Depois da aula de português vinha aula dupla de educação física.
A maior sorte que se pode ter num primeiro dia de aula é ter aula dupla de educação física.
Dá até para ficar contente de ter voltado para a escola.
E dá até para acreditar quando a nossa mãe fala que essa é a melhor época de nossa vida, quando ela faz aquele discurso que toda mãe faz.
Discurso: “Aproveita, meu filho. Essa é a melhor época da sua vida. Ir para a escola é uma delícia. Quando você crescer vai se lembrar da escola e sentir uma saudade danada.”
 Minha mãe diz que é para aproveitar a escola porque depois que a gente cresce a gente fica cheio de problemas para resolver.
Aí é que está. Eu ainda nem cresci e já estou cheio de problemas.
Só no ano passado eu tive quer resolver 187.
 E não foi nem para mim. Foi para o professor de matemática.


Quatro
A semana passou bem rápido e quando a gente viu já era sexta-feira.
Ter chegado a sexta-feira era ótimo.
Agora só faltavam mais dezenove semanas para as próximas férias.
A única coisa ruim é que na sexta eu tinha aula dupla de português e a professora ia trazer as nossas redações de volta.
Quando a professora entrou na sala eu tinha acabado de puxar o elástico do sutiã da Mariana Guedes. Agora a moda das meninas era usar sutiã por baixo da camiseta.
E a nossa moda era puxar o elástico para o sutiã estalar bem nas costas delas.
 Eu corri e a Mariana Guedes me jogou uma borracha bem na cara.
Mas a professora foi olhar para a gente só na hora que eu joguei a borracha de volta.
E aquela Mariana Guedes ainda abaixou e a borracha passou bem perto dos óculos da professora. A professora ficou me olhando de novo, igual no dia da redação, e então eu me sentei esperando uma daquelas broncas humilhantes no meio da classe.
Mas a professora não falou nada.
Quando você apronta uma dessas e o professor não fala nada, não é porque o professor é um cara bem legal.
 É que o que vem pela frente é pior do que o pior que você imaginava.
O pior foi colocado bem em cima da minha mesa.
As minhas férias, que tinham sido perfeitas para mim, não chegaram nem perto de terem sido boas para a professora. Elas voltaram cheias de defeitos.
Faltou um esse no passe de craque do Paulinho, um acento na minha tática e a minha comemoração eu escrevi com tanta empolgação que acabou saindo com dois esses em vez de cê-cedilha.
E o pior do que eu imaginava foi o que ela fez com o meu golaço que estilhaçou em mil pedaços a janela do vizinho.
Ela disse que “em mil pedaços” é um adjunto adverbial e que tinha que ficar entre vírgulas.
Eu olhei na Gramática e lá estava explicado que um adjunto adverbial é um termo acessório e a gente pode eliminar aquela parte da frase que ela continua a fazer sentido.
Eu queria ver a professora dizendo para o meu vizinho que aqueles mil pedacinhos da janela dele eram só um adjunto adverbial.
E tem mais uma coisa: eu estava de férias.
Era muito mais importante marcar o gol do que as vírgulas, concorda?
E as minhas férias ficaram assim:


Minhas férias
Eu sempre adoro as minhas férias na casa do meu avô. Lá tem um campinho de futebol bem legal e uma turma de amigos bem grande. Isso é perfeito porque um campinho sem uma turma grande não serve para nada. E uma turma grande sem campinho não cabe em lugar nenhum que não seja um campinho. A gente passa o dia todo jogando futebol e só para de jogar quando já está escuro e não dá mais para ver a bola. Então já é hora de jantar. Depois do jantar, os meus melhores amigos da turma vão para a casa do meu avô e a gente pode continuar jogando, só que futebol de botão que não dá indigestão. Aí, a gente pode jogar até tarde porque no dia seguinte não tem aula. É por isso que férias é bom. Teve um dia que eu fiz um golaço. Não no futebol de botão, no de verdade. O gol veio de um passe de craque do Paulinho que é o meu melhor amigo (entre os meus melhores amigos) da turma. Você sabe que para jogar futebol não adianta só ser bom de bola. Tem que ter tatica. O Paulinho driblou um, dois e eu vi que ele ia passar pelo terceiro. Ele também me viu. Aí eu me enfiei pela esquerda e recebi a bola. Chutei direto. Eu fiz um golaço tão grande que furou a rede e estilhaçou, em mil pedaços, a janela do viznho. Deu a maior confusão porque enquanto a turma pulava o vizinho apareceu bravo com abola em baixo do braço e a mulher dele veio atrás. Eu tive até que parar com a minha comemorassão. Mas a mulher do vizinho que veio atrás dele falou (para ele) que criança é assim mesmo e que a gente estava só se divertindo e que ninguém fez aquilo de propósito. E era verdade mesmo porque a culpa não foi nossa da rede ter furado. E aí acabou ficando tudo bem. O meu vizinho devolveu a bola, verificou a rede e disse que o meu gol foi mesmo um golaço, mas que era para a gente tomar mais cuidado com as janelas da casa do lado.


(No texto original a redação do garoto vem toda riscada com as observações da professora)


A professora não fez nenhum outro comentário sobre o que eu tinha escrito. Para ela tanto fazia se o meu gol tinha sido um golaço ou um frango do goleiro. Eu fiquei bem chateado. Ela tinha acabado com as minhas férias. Isso significava que era a terceira vez que as minhas férias acabavam numa semana só. Não podia existir nada pior do que isso na vida de um garoto de 11 anos. Mas existia.


Cinco
No final da aula a professora me chamou na mesa dela.
Eu tinha que fazer de lição para segunda-feira a análise sintática da frase:
“Eu fiz um golaço tão grande que até furou a rede e estilhaçou, em mil pedaços, a janela do vizinho”.
Era o fim. As minhas férias já tinham virado redação e agora acabavam de virar lição de casa.
 E uma lição dificílima.
Fazer análise sintática!
Eu nem lembrava mais o que era isso.
Do jeito que as coisas vão, quando chegarem as minhas próximas férias eu não vou saber se é para ficar feliz ou triste.
Eu vou falar “ah, não, férias me lembram redação e lição de casa” e ninguém vai entender nada. Então eu pensei que ainda bem que amanhã era sábado.
Eu já comecei a me lembrar que a turma do prédio tinha marcado pólo aquático na piscina. Peguei a minha mochila e saí correndo para não perder o ônibus para casa.
Não me lembro se a professora continuou em sala ou não.
Eu só me lembro que eu fui o último a sair.
O fim de semana me fez esquecer da escola e da primeira semana de aula, o que foi bom.
O único detalhe é foi que eu também acabei esquecendo da lição de português.
E na segunda de manhã eu tive que fazer tudo correndo quando cheguei na escola, antes de tocar o sinal.
Análise sintática já é uma coisa bem complicada quando você tem que fazer o exercício logo depois que a professora acabou de explicar como se faz.
Imagina fazer depois das férias de verão quando você mudou da quinta para a sexta série mas nem se lembra como é que passou de ano.
Eu peguei o meu caderno e escrevi a minha frase.
Eu fiz um golaço tão grande que até furou a rede e estilhaçou, em mil pedaços, a janela do vizinho.
Depois eu fui escrevendo o que eu me lembrava que tinha que ter numa análise sintática.


Sujeito: Predicado: Objeto direto: Objeto indireto: Partícula apassivadora:


Isso era tudo o que eu me lembrava. Então eu comecei a escrever do lado de cada coisa dessas uma análise sintática. Pus lá:


Sujeito: O meu vizinho. Que é realmente um sujeito de meter medo apesar de eu achar que ele deve ser legal porque está casado há um tempão com a mulher dele que é bem legal.


Predicado: O meu vizinho de novo. Isso, se a gente colocar no meio dessa palavra a sílaba JU e então a palavra vira prejudicado porque ele foi mesmo o grande prejudicado dessa história. Objeto direto: A bola. Nem precisa explicar por quê.


Objeto indireto: Eu. Porque a janela quebrou em mil pedaços por causa do meu chute mas na verdade foi culpa da rede que furou.


Partícula apassivadora: Essa era a mulher do meu vizinho que apassivou a briga e se você reparar como ela é pequena eu acho que partícula é o que ela é.


Pronto. Acabei a lição e o sinal nem tinha tocado ainda. Fechei o meu caderno. Depois eu abri de novo. Lembrei de mais uma coisa que tinha na análise sintática e escrevi:


Adjunto adverbial: em mil pedaços.


No final da aula de português eu deixei a minha lição na mesa da professora e fui para a minha aula dupla de educação física.


Sete
Na minha aula dupla de português da sexta-feira, a professora me entregou a análise sintática. Eu tirei zero e tive que escrever toda essa história contando tudo isso que aconteceu para você. Ela me disse que você é que ia decidir o que fazer comigo, porque você é o Diretor dessa escola e ela não sabia que atitude tomar. Foi isso.


Assinado Guilherme Pontes Pereira 6a. série B – Manhã


No dia seguinte o Diretor me chamou na sala dele.
Ele já tinha lido toda a história que eu escrevi e eu já estava pensando no que eu ia dizer para os meus pais quando ele me expulsasse da escola.
Eu ia dizer:
- Mãe, pai, fui expulso da escola.
Eu entrei na sala do Diretor e me sentei na cadeira bem na frente dele.
 Quer dizer, na frente mais ou menos, porque era uma daquelas cadeironas que a gente afunda dentro, então o porta-lápis, que ficava na mesa do diretor, tapava a cara dele até o nariz.
Mas ele chegou o porta-lápis para o lado e eu consegui olhar para ele bem de frente.
E ele disse:
 - Guilherme, eu fiquei muito impressionado com a história que você escreveu.
Você precisa fazer mais redações.
 Então ele me mandou de volta para a sala de aula.
Eu fiquei pensando muito nisso tudo porque no começo eu não estava entendendo nada.
 Mas depois eu descobri por que escolheram aquele cara para ser o Diretor.
Ele é bem inteligente.
Fazer mais redações era mesmo um castigo muito pior do que ser expulso da escola.   http://portaldeleitura.blogspot.com.br/2010/01/minhas-ferias-pula-uma-linha-paragrafo.html  

Uma versão mais curtinha:
O primeiro dia de aula é o dia que eu mais gosto em segundo lugar.
O que eu mais gosto em primeiro é o último, porque no dia seguinte chegam as férias.
Os dois são os melhores dias na escola porque a gente não tem aula.
 No primeiro dia não dá para ter aula porque o nosso corpo está na escola, mas a nossa cabeça ainda está nas férias.
 E no último, também não dá para ter aula porque o nosso corpo está na escola, mas a nossa cabeça já está nas férias.
Era o primeiro dia e era para ser a aula de português, mas não era porque todo mundo estava contando das férias.
E como todo mundo queria contar mais do que ouvir, o barulho na classe estava mesmo ensurdecedor.
O que explica o fato de ninguém ter escutado a professora gritando para a gente parar de gritar. Todo mundo estava bem surdo mesmo.
 Mas quando ela bateu com os livros em cima da mesa a nossa surdez passou e todo mundo olhou para ela.
Ela estava em pé, na frente do quadro e ficou em silêncio, com uma cara bem brava, olhando para a gente.
Quando um professor está em silêncio com uma cara bem brava olhando para você, é melhor também ficar em silêncio com uma cara de sem graça olhando para um ponto qualquer que não seja a cara brava do professor.
A professora puxou a cadeira dela e se sentou.
Atrás dela, no quadro-negro, eu vi decretado o fim das nossas férias e o fim do nosso primeiro dia de aula sem aula. Estava escrito:
Redação: Escrever 30 linhas sobre as férias.”


Comentários sobre a obra:
A divertida crítica de Christiane Gribel, em Minhas Férias, Pula uma linha, Parágrafo. (Moderna. 2005), trata da aflição do personagem Guilherme, garoto de 11 anos, que se vê desesperado diante da obrigação de ter de redigir sobre suas férias:

“Aqueles dois meses inteirinhos de despreocupações estavam prestes a virar 30 linhas de preocupações com acentos, vírgulas, parágrafos e ainda por cima com a letra legível depois de tanto tempo sem treino.”


A narração detalhada do sofrimento de Guilherme, da elaboração à correção da redação, traz à tona as dificuldades de produção de textos que os alunos apresentam e a aversão à escrita em que isso se transforma, servindo como um subsídio muito interessante para coordenadores pedagógicos no tocante à reflexão de professores quanto à metodologia em questão.


A trama mostra ainda a correção da redação que a professora faz, despertando a análise da prática tão disseminada de marcar em vermelho o texto do aluno, encerrando aí o processo avaliativo.


“As minhas férias, que tinham sido perfeitas para mim, não chegaram nem perto de terem sido boas para a professora. Elas voltaram cheias de defeitos. Faltou um esse no passe de craque do Paulinho, um acento na minha tática e a minha comemoração eu escrevi com tanta empolgação que acabou saindo com dois esses em vez de cê-cedilha.


E o pior do que eu imaginava foi o que ela fez com o meu golaço que estilhaçou em mil pedaços a janela do vizinho.
Ela disse que “em mil pedaços” é um adjunto adverbial e que tinha que ficar entre vírgulas.


Eu olhei na Gramática e lá estava explicado que um adjunto adverbial é um termo acessório e a gente pode eliminar aquela parte da frase que ela continua a fazer sentido.
Eu queria ver a professora dizendo para o meu vizinho que aqueles mil pedacinhos da janela dele eram só um adjunto adverbial.


E tem mais uma coisa: eu estava de férias. Era muito mais importante marcar o gol do que as vírgulas, concorda?


A professora não fez nenhum comentário sobre o que eu tinha escrito.
 Para ela tanto fazia se o meu gol tinha sido um golaço ou um frango do goleiro.
Eu fiquei bem chateado. Ela tinha acabado com as minhas férias. Isso significava que era a terceira vez que minhas férias acabavam numa semana só.
Não podia existir nada pior que isso na vida de um garoto de 11 anos.”


E quem de nós não é capaz de se identificar com a mensagem do texto?
Boa volta às aulas!
http://temaeducacao.blogspot.com.br/2011/07/minhas-ferias-pula-uma-linha-paragrafo.html

Nota do linguagem

A história de Guilherme me leva seguramente a imagem daquela professora  dominadora que entra na sala com ar de superioridade e pouca vontade pedagógica.
A saga de Guilherme traz uma reflexão sobre  nossa postura diante de nossos alunos:
Já no primeiro momento a professora já inicia uma aula totalmente sem um boas vindas, um alô amistoso ou um sorriso...
Por esta razão admiro as professoras do ensino infantil, que se preocupam com um "volta às aulas" lúdico. Infelizmente, seus aluninhos quando estiverem com a idade do Guilherme passarão pelo mesmo "parágrafo " dele...



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